Intenção: tomada de consciência do sentido dos objetos técnicos. A cultura ignora uma realidade humana na realidade técnica, sendo que deve incorporar os seres técnicos sob a forma de conhecimento e sentido dos valores. Essa tomada de consciência deve ser efetuada pelo pensamento filosófico.
– A oposição entre cultura e técnica, homem e máquina, é falsa e sem fundamento. Trata-se de um humanismo sendo que o autor enxerga os objetos técnicos como mediadores entre a natureza e o homem.
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Por cima da comunidade social do trabalho e além da relação interindividual que não se suporta por uma atividade operativa, se institui um universo mental e prático da tecnicidade no qual os seres humanos comunicam através do que inventam à suporte e símbolo de relação transindividual.
– Para que um objeto técnico seja recebido assim e não só como útil, para que seja julgado como resultado de uma invenção, portador de informação, e não como utensílio, é preciso que o sujeito que o recebe possua formas técnicas à se cria uma relação inter-humana que é o modelo da transindividualidade, uma relação que põe os indivíduos em relação mediante essa carga de realidade pré-individual, que contém potenciais e virtualidades.
– Não diz que a alienação econômica não exista, mas Simondon defende uma generalização da alienação, sendo que a verdadeira via para reduzir a alienação não se situa no domínio do social (com a comunidade do trabalho ou da classe), nem no domínio das relações interindividuais que a psicologia social considera, mas no nível do coletivo transindividual.
– Os objetos técnicos que mais produzem alienação são aqueles que também estão destinados a usuários ignorantes à os objetos técnicos que não estão submetidos a este estatuto de separação entre a constituição e a utilização não se degradam com o tempo.
– A alienação que provém do corte artificial entre a construção e a utilização dos objetos técnicos não somente é sensível no homem que emprega a máquina, trabalha sobre ela e não pode impulsionar sua relação com ela além do trabalho; repercute também nas condições econômicas e culturais do emprego da máquina e do valor econômico da máquina, sob a forma de uma desvalorização do objeto técnico, tanto mais rápida quanto acentuada seja essa ruptura.
– A oposição entre a ação e a contemplação, entre o imóvel e o móvel, deve terminar frente a introdução da operação técnica no pensamento filosófico como terreno de reflexão e paradigma.
https://ciberculturauerj.wordpress.com/2016/11/15/o-modo-de-existencia-dos-objetos-tecnicos-gilbert-simondon/#more-129
Simondon foi um biofísico e filósofo contemporâneo 
(1924-1989), cuja obra mais discutida e trabalhada, por pensadores como 
Baudrillard, Deleuze e Latour, nasceu de sua tese do doutoramento: “L’ individu et as genèse psysico-biologique” , “L” individuation psychique et collective”(teses principais), “Du mode d’esxistence des objetes techniques”(tese secundária).
Ele se coloca na história filosófica como um teórico 
dos processos de individuação quer que se trate de cristolografia, de 
biologia ou de individuação psíquica, social ou técnica. Toma os 
operadores da Física quântica como base para desenhar uma outra 
ontologia. Ele mostra como ao longo da tradição da filosofia e das 
ciências ocidentais, jamais se pensou o processo de individuação- a 
história de como algo se torna algo- e sempre se tomou o indivíduo como 
já dado.
PROBLEMA DA INDIVIDUAÇÃO ( que não produz apenas o indivíduo)
Existem duas vias segundo as quais a realidade do 
ser, como indivíduo, pode ser abordada: via substancialista e a via 
hilemórfica. Na primeira encontramos o monismo, que nos diz que o ser 
surge de uma reunião de átomos, que se reúnem e se dispersam, mas 
constituídos por algo já pronto: átomos, os que não têm partes, como os 
indivíduos, os que não se dividem. Na segunda perspectiva encontramos a 
idéia de bipolaridade em que o indivíduo é engendrado pelo encontro de 
uma forma e de uma matéria.
Ambas teorias supõem que existe um princípio de 
individuação capaz de explica-la. Não coloca o indivíduo no sistema de 
realidade em que a individuação se produz. Na própria noção de 
princípio, há um certo caráter que prefigura a individualidade, é 
necessário supor a existência de um primeiro termo, o que explicará que o
 indivíduo seja indivíduo.
Assim, a pesquisa do princípio da individuação realiza-se antes  ou depois  da individuação, conforme o modelo, seja ele tecnológico e vital (hilemórfico) ou físico (substancialista).
Mas em ambos os casos há uma zona obscura que é deixada de lado. É exatamente essa área que interessa Simondon: o Meio, o  Processo.
Este interesse leva a uma reversão na investigação do
 princípio da individuação, já que o quê se torna primordial é a 
operação a partir da qual o sujeito vem a existir.
O que a individuação faz aparecer é não só o 
indivíduo, mas também o par indivíduo-meio. Dessa maneira, o indivíduo é
 relativo em 2 sentidos porque ele não é todo ser e porque resulta de um
 estado do ser em que ele não existia como indivíduo.
Simondon pesquisa detalhadamente a individuação dos 
cristais como modelo de estudo da gênese. Claro que no domínio físico é 
muito diferente do domínio do vivo. No mundo físico a mediação é brusca e
 definitiva (A Gênese do Indivíduo- Simondon- p.104) enquanto que no 
domínio do vivo a atividade é permanente, favorecendo um palco e teatro 
da individuação.
Mas, salientamos que o modelo da individuação não se 
encontra só no mundo físico e no vivo, ele também aparece no psiquismo e
 nos coletivos humanos- não há, por sinal, individuação psíquica que não
 seja imediatamente coletiva. Ele se encontra tanto no ser como no 
conhecer. Não há diferença entre os modos, os movimentos com que a 
Natureza se cria e os modos como os homens constroem seu conhecimento da
 Natureza, do Cosmos, ou de si mesmos. Simondon recupera um monismo 
ontológico como o de Espinosa.
Conceitos principais
 Individuação
Entendida como uma resolução parcial e relativa. É a 
primeira fase do Ser. Apresenta a capacidade que o ser tem de defasar-se
 em relação a si mesmo, de resolver-se defasando-se, o que nos sinaliza a
 conservação do ser pelo devir.
Para pensar a individuação é necessário considerar o 
ser, não como substância, matéria ou forma, mas como sistema tenso, 
supersaturado. Tanto que neste entendimento, da tensão indivíduo-meio 
emerge o devir como resolução das tensões primeiras e uma das 
conservações dessas primeiras forças, sob estrutura, dá-se o indivíduo.
Equilíbrio instável ou metaestabilidade
Antes só se conhecia o equilíbrio estável e se 
pensava que o ser estava em estado de equilíbrio estável. Os antigos- 
gregos- só conheciam a instabilidade e a estabilidade, o movimento e o 
repouso. Para conhecer a metaestabilidade foi preciso a noção de energia
 potencial de um sistema, a idéia de ordem e a de aumento de entropia.
Esta mudança de paradigma nos interessa muito porque o
 equilíbrio estável exclui o devir, pois corresponde ao grau mais baixo 
de energia potencial, é o equilíbrio atingido quando todas as 
transformações possíveis foram realizadas e não existe mais força.  Já o
 instável, entendido aqui como plano das forças e puro movimento, não 
permite configurações duráveis num sistema.
O regime da metaestabilidade, fronteira entre o 
estável e o instável, não só é mantida pelo indivíduo como também 
carregada com ele, de maneira que o indivíduo constituído transporta 
consigo certa carga associada de realidade pré- individual (reservatório
 de possíveis). Essa natureza pré-individual, que permanece associada ao
 indivíduo, é uma fonte de estados metaestáveis futuros de onde poderão 
sair novas individuações.
Na realidade o indivíduo só pode ser contemporâneo de
 sua individuação, contemporâneo do princípio. O indivíduo não é somente
 resultado, mas meio de individuação.
 METAESTÁVEL 
PRÉINDIVIDUAL  | 
 TRANSCENDENTAL EM DELEUZE 
 | 
MEIO PROVIDO DE SINGULARIDADES QUE CORRESPONDEM À 
EXISTÊNCIA E À REPARTIÇÃO DOS POTENCIAIS ENERGÉTICOS. ESPAÇO EM QUE SE 
PODE SER SINGULAR SEM SER INDIVIDUAL 
 | 
Tudo muda com a dimensão quântica do pré-individual. O
 que se individua sai desse todo ou desse nada, conjunto de todos os 
potenciais, em transformação veloz e inidentificável, quando dois ou 
mais potenciais são, por acaso, içados fora do plano pré-individual, uma
 informação passa a circular de um a outro. Enquanto a informação se faz
 em sua repetição criadora, algo está se individuando. O que se 
individua nunca deixa de ser atravessado pelos fluxos potenciais de onde
 surgiu. A forma mais rica desses sistemas físicos é a vida: com suas 
estruturas continuamente abertas e se replicando.
Simondon escreve: “Poder-se-ia chamar natureza a esta
 realidade pré-individual que o indivíduo leva consigo, tratando de 
encontrar na palavra natureza o significado que lhe davam os filósofos 
pré-socráticos: a natureza é realidade do possível que, sob as espécies 
do apeíron (indeterminado), faz surgir toda forma individuada; a 
Natureza não é o contrário do homem, mas a primeira fase do ser”
O ser pré-individual é o ser sem fases, ao passo que o ser após a individuação é um ser fasado.
Problemático
Primeiro momento do ser pré-individual. A 
individuação é a organização de uma resolução para um sistema 
objetivamente problemático.
Adaptação
Na individuação do vivo há tb a individuação do meio 
na medida em que cada processo no vivo vai desdobrando, vai se 
inventando também um mundo ou um meio ambiente diante desse vivo, 
emergindo e tornando-se viável para esse vivo. Assim entre indivíduo e 
meio encontramos a imbricação ou seja uma relação de co-dependência.
 Técnica
Para Heidgger a técnica servia em sua perspectiva 
instrumental, ou seja, estando a serviço do homem e do bem-estar social.
 Tal idéia está relacionada com o Humanismo e o discurso de progresso da
 modernidade. Simondon nos apresenta a perspectiva da imbricação, ou 
seja, a técnica é concebida como algo genuinamente humano. A mixagem 
homem-máquina é a integração da técnica à cultura enquanto o objeto 
técnico é mediador entre o gênero humano e o mundo.
“O ser vivo resolve problemas não apenas se 
adaptando, ou seja, modificando sua relação com o meio (como a máquina 
pode fazer), mas modificando-se ele mesmo. Inventando estruturas 
internas novas. “ Simondon
Simondon procurou pensar a individuação em seu 
aspecto mais amplo, tanto no físico quanto no biológico, no psíquico e 
no social. Focando a processualidade. Descarta a perspectiva de dar 
formar ou moldar e opta pela idéias de modulação. Neste caso, o 
indivíduo não recebe uma forma. Ele se auto-modula, e o que lhe permite 
esta auto-modulação é o seu regime de metaestabilidade.
 “Um filósofo inspirado na atualidade da ciência e, ao mesmo tempo, 
reencontra os grandes problemas clássicos, transformando-os, 
renovando-os. E o que Simondon elabora é toda uma ontologia segundo a 
qual o Ser nunca é Uno”   Gilles Deleuze
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