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26.11.15

Química

Você é daqueles que dizem não gostar de tomar remédios porque “toda essa química” pode fazer mal para a saúde? Mas, você sabia que o tempo todo estamos sob influência de substâncias químicas? Eu não gosto muito de tomar medicamentos também. Mas não é porque há química demais neles. Deixa eu te contar um pouco sobre essa “química toda” e depois eu te conto porque não gosto de tomar medicamentos.
A comunicação química é essencial para o comportamento dos seres vivos. Organismos unicelulares detectam uma fonte de energia no ambiente (glicose, por exemplo) e se movimentam em sua direção através da potencialidade desta energia química em mobilizar o comportamento daquela célula. Esta potencialidade em organismos multicelulares permite que células em diferentes partes do organismo se comportem como um organismo único, buscando um objetivo comum. Assim, se sensores internos detectam que a concentração de glicose está aumentada depois de uma farta refeição, o pâncreas endócrino libera insulina (uma proteína) para que o comportamento das células seja o de retirar glicose do sangue para usá-la e armazená-la. Se as células não dependessem da sinalização da insulina para isso, a mesma poderia faltar para células vitais durante um período de jejum prolongado, uma vez que as células retirariam a glicose do sangue de forma indiscriminada. Assim, mesmo o comportamento de nossas unidades funcionais (células) depende do ambiente químico no qual elas estão.

Os sistemas endócrino e neurológico

Com o processo de complexificação das formas de vida e dos sistemas biológicos, dois sistemas, conhecidos como sistemas de controle, evoluíram a partir do desenvolvimento de mecanismos de comunicação química bastante especializados. Para resumirmos sua atuação, tanto o sistema nervoso quanto o sistema endócrino recebem informações do meio interno do indivíduo e do meio externo ao indivíduo e produzem respostas adequadas, o que promove a adaptação do indivíduo ao meio em que vive e suas mudanças, fazendo com que o seu comportamento seja o mais adequado possível frente às circunstâncias apresentadas. A insulina é um hormônio que é produzido por um destes sistemas, o sistema endócrino.

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A diferença entre os dois sistemas é que os hormônios do sistema endócrino possuem um tempo de ação e reação maiores e atingem diferentes partes do organismo simultaneamente. A peculiaridade sobre o sistema endócrino é que ele está mais diretamente envolvido com respostas globais; estas envolvem muitos tecidos que apresentam receptores para as substâncias químicas liberadas no sangue e por ele distribuídas a todos os tecidos. Já o sistema nervoso atua através da liberação de neurotransmissores por terminações nervosas que atingem uma região mais específica; estes possuem um tempo de ação e reação muito mais curtos. Neste sentido, a liberação de um hormônio como a insulina tem efeito global, enquanto que a ação de um neurotransmissor liberado pela terminação axônica de um neurônio tem um efeito focal.
Com base nestas informações, podemos entender que um fato muito importante sobre os neurotransmissores e hormônios para esta nossa discussão é que eles são capazes de interferir diretamente no nosso comportamento. Esta interferência se dá especialmente porque as células do nosso organismo, neurônios ou não, são responsivas a estes elementos químicos. Mas é ainda mais relevante entendermos que não há outra forma do nosso comportamento ser estimulado que não seja por meio dessas substâncias.

O que faz as células de todas as partes do nosso corpo serem responsivas aos neurotransmissores e aos hormônios?

Sendo as células compostas por uma organização bastante complexa de diferentes substâncias químicas, não é difícil entender que quando um determinado agente químico entra em contato com a célula há uma chance de que aconteça uma reação química. Da mesma forma que o íon sódio pode se ligar ao íon cloro e formar cloreto de sódio (sal de cozinha), as substâncias químicas podem reagir quimicamente com elementos da célula e provocar uma mudança em seu comportamento. E este é o princípio mais importante do funcionamento celular: a capacidade das células reagirem a substâncias químicas que entram em contato com ela é o que permite a estas células se comportarem de um modo adequado. Da melhor maneira possível para manter a vida. Assim, mais de 100 quatrilhões de células que compõem o nosso corpo são orquestradas em um funcionamento perfeito, pelo controle químico que o sistema endócrino e o sistema nervoso executam.
Para exercerem influência, na maioria das vezes esses compostos nem precisam entrar nas células. Posicionadas na membrana celular, encontramos determinadas substâncias químicas de natureza proteica que são denominadas de receptores. Mas para garantir a especificidade da comunicação química, cada célula apresenta um determinado conjunto de receptores e eles só respondem a determinados agentes químicos.

A ocitocina

Um exemplo disso pode ser dado pela ocitocina. Muitos de nós sabemos que a mulher, ao entrar em trabalho de parto, tem contrações do miométrio (o músculo do útero). Estas contrações são fortemente estimuladas pelo hormônioocitocina, liberado pela hipófise (uma glândula situada bem próxima ao encéfalo) quando a hora do parto chega. As células do músculo uterino têm receptores para ocitocina e contraem quando esta ocitocina chega pela corrente sanguínea depois de ser liberada pela hipófise. Porém, durante outras fases da gestação, estas células não apresentam receptores para ocitocina e mesmo que haja uma liberação importante deste hormônio por outras causas (um orgasmo, por exemplo) não teremos contrações uterinas para provocar o parto. Ao final da gestação, com as mudanças hormonais que acontecem, as células passam a sintetizar seus receptores e, se houver uma liberação de ocitocina, o trabalho de parto começa. Se este sistema falhar e a hipófise não liberá-la, os obstetras podem colocar a mãe “no soro”, que é como se diz quando a a substância é colocada diretamente na veia na tentativa de provocar contrações e um parto normal.

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Em geral, as mulheres que precisam receber ocitocinaexógena (o nome que damos para quando a substância química vem de fora do corpo), reclamam que as contrações são muito doloridas. Geralmente, quando administramos uma substância química não conseguimos imitar a quantidade certinha que o corpo liberaria nas mesmas condições, apesar de ser esta a razão de prescrever-se uma dose exata de medicamento ou ser preciso fazer algumas tentativas até chegar-se na dose apropriada para um determinado paciente. E, justamente por ser tão próximo do nosso funcionamento natural, as substâncias químicas que usamos podem interagir com sistemas diferentes daqueles que seriam necessários em uma determinada situação, causando efeitos colaterais inevitáveis.
Esta é a razão para eu fugir de medicamentos. Mas tem hora que é absolutamente necessário, né? E a medicação pode ser mesmo a sua única salvação. Viva em paz com toda a sua química.
http://meucerebro.com/a-vida-quimica/


Carla Tieppo é doutora em ciências pela USP. Fundadora da Inédita Cursos, é pioneira no Brasil em cursos de extensão em Neurociências para diferentes áreas de interesse. Professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa há 21 anos. Consultora do programa Bem Estar da Rede Globo e autora de inúmeros artigos em diversas revistas de circulação nacional.




http://meucerebro.com/chega-de-neuronios-por-enquanto-os-astrocitos-e-suas-funcoes
Este artigo é dedicado a outras células também presentes no sistema nervoso, dotadas de uma gama enorme de funções, sem as quais a funcionalidade neuronal estaria prejudicada. Estas células são os astrócitos. No tecido nervoso normal, ocorrem dois tipos: os astrócitos protoplasmáticos e os fibrosos.
Enquanto os protoplasmáticos predominam na substância cinzenta, os fibrosos ocorrem principalmente na substância branca. Aqueles têm prolongamentos mais numerosos, curtos, delicados e ramificados em relação a estes. Ambos apresentam muitos prolongamentos que terminam em vasos sanguíneos por uma expansão à maneira de trombeta, o pé sugador (nome consagrado pelo uso, porém equivocado, pois os astrócitos não sugam vasos).
Para confirmar a subestimada importância dos astrócitos, observe muitas das funções que lhes são atribuídas:

Sustentação mecânica do tecido nervoso

Ambos os tipos de astrócitos contêm no citoplasma filamentos intermediários constituídos por vimentina e por uma proteína exclusiva, a proteína glial fibrilar ácida (glial fibrillary acidic protein ou GFAP). Estes filamentos, em microscopia óptica tradicional, denominam-se fibrilas gliais e podem ser demonstradas por imunohistoquímica para GFAP ou VIM.  As fibrilas gliais têm função de sustentação mecânica: os astrócitos e seus prolongamentos constituem uma trama ancorada nos vasos, na qual se apoiam os neurônios e outras células.

Formação da barreira hematoencefálica

Os prolongamentos astrocitários recobrem a superfície externa dos vasos, desde artérias e veias até capilares. A interação dos astrócitos com as células endoteliais dos capilares é essencial para a modificação destas, constituindo a barreira hematoencefálica.

Controle do metabolismo neuronal

Na substância cinzenta, os prolongamentos dos astrócitos protoplasmáticos envolvem os neurônios, mantendo um microambiente adequado às funções metabólicas destes. Por exemplo, a atividade neuronal causa um aumento na concentração extracelular de potássio; o excesso deste íon seria captado pelos astrócitos.

Isolamento elétrico

Os prolongamentos dos astrócitos protoplasmáticos funcionariam como isolantes elétricos de certas sinapses, impedindo que a difusão de neurotransmissores excite indesejavelmente sinapses vizinhas.

Regulação dos neurotransmissores

Astrócitos captam neurotransmissores liberados e facilitam o retorno dos precursores aos neurônios para reutilização. Além disso, restringem a difusão dos neurotransmissores liberados.

Cicatrização e regeneração

Atuam na cicatrização do tecido nervoso, por meio da formação dos astrócitos gemistocíticos, responsáveis pela gliose. Estudos recentes sugerem que os astrócitos podem ativar a maturação e a proliferação de células-tronco nervosas adultas e ainda, que fatores de crescimento produzidos por eles podem ser críticos na regeneração dos tecidos cerebrais ou espinhais danificados por traumas ou enfermidades.

Aprendizagem

Desde que um grupo de neurocientistas descobriu que ondas de cálcio propagam através de redes de astrócitos, a visão que se tinha dessas células nunca mais foi a mesma. Sabe-se também que são muito mais numerosas que os próprios neurônios, em números absolutos e relativos, e que, portanto, deveriam desempenhar um papel mais importante no rol de funções neurais, inclusive cognitivas. Hoje, acredita-se que tal atividade elétrica relacionada ao cálcio desempenharia um papel significativo no aumento da capacidade de aprendizagem.
Fontes:
  1. http://anatpat.unicamp.br/taneutecnervnl.html
  2. GOERGEN, DI; CRUZ, DB (2012). Conceitos atuais sobre os Astrócitos.
  3. http://www.antanitus.com/