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6.11.13

Órgão de choque - Stress


In: “A Compreensão Psicossomática do Órgão de Choque através do trabalho com Polaridades”
Dissertação de Mestrado do Núcleo de Psicossomática e Psicologia Hospitalar da PUC-SP



É fato que a literatura costuma referir-se ao “Órgão de Choque” como aquele que adoece com freqüência, o que recebe o impacto de uma vivência emocional, o que expressa e reage às “dores” implícitas, que estão inconscientes no indivíduo.
Também se sabe que essa “fragilidade” pode ser transmitida geneticamente, provocada através da história de vida, da alimentação, da cultura, do momento sócio-histórico, de condições climáticas, do aprendizado familiar; das emoções contidas, como medo, tristeza, frustração, ansiedade, culpa, ressentimentos e outras.
Enfim inúmeros fatores podem contribuir para que canalizemos a nossa expressão de dor a um órgão fragilizado, porém, poucas referências específicas sobre o órgão de choque foram encontradas.
O órgão de choque também é referido na literatura como órgão de impacto, “locus minoris resistentiae”, justificando a vulnerabilidade de um determinado órgão.
Há algumas referências sobre a fragilidade de determinados órgãos em situações de stress, citações sobre vulnerabilidade, e colocações de autores da Gestalt-Terapia; que se seguem. Porém não se encontrou na literatura algo específico sobre órgão de choque.


O Stress:
Desde os primórdios dos estudos de Stress, Hans Seyle, (1965) usou o termo Stress para nomear o “conjunto de reações que um organismo desenvolve ao ser submetido a uma situação que exige esforço para a adaptação”. O autor expõe que o organismo, quando exposto a um estímulo percebido como ameaçador à homeostase, tende a responder de forma uniforme e inespecífica, anatômica e fisiologicamente e a esse fenômeno Seyle chamou de “Síndrome Geral de Adaptação”.
Essa síndrome foi classificada em três fases: Reação de Alarme, Fase de Resistência e Fase de Exaustão.
A - Na reação de Alarme, o organismo, ao sentir-se ameaçado, prepara-se para a luta ou fuga, aumentando assim a freqüência cardíaca e a pressão arterial, permitindo maior oxigenação celular. Nesta fase, o baço se contrai, levando mais sangue à circulação, o fígado libera açúcares para gerar mais energia para os músculos e cérebro, a freqüência respiratória também aumenta dilatando os brônquios para captar e receber mais oxigênio. Além disso, as pupilas se dilatam, aumentando a eficiência visual e os linfócitos são aumentados na corrente sanguínea a fim de reparar possíveis danos ao tecido.
Essas reações são desencadeadas por descargas adrenérgicas da medula da supra-renal e da noradrenalina. Ao se extinguirem os agentes stressantes, as reações tendem a regredir até desaparecerem, porém, se o organismo for obrigado a manter seu esforço de adaptação, entrará na Fase de Resistência.
B - A Fase de Resistência caracteriza-se pela reação de hiperatividade córtico-supra-renal, mediada pelo diencéfalo e hipófise, com aumento no córtex da supra-renal, desencadeando a atrofia do baço e das estruturas linfáticas, leucocitose, diminuição de eosinófilos e surgimento de ulcerações. Ao persistirem os agentes agressores por repetição, ou por tornarem-se crônicos, o organismo entra em Fase de Exaustão.
C- A Fase de Exaustão é caracterizada pela diminuição de amplitude e antecipação das respostas, podendo gerar falhas nos mecanismos de defesa, dificuldade na manutenção de mecanismos adaptativos, perdas de reservas e morte.
Segundo Rodrigues e Gasparini, 1992, há doenças...
... em que notoriamente há um componente de esforço de adaptação, como por exemplo, nas úlceras digestivas, nas alterações dispépticas, crises hemorroidárias, alterações da pressão arterial (ditas essenciais), alterações na parede dos vasos sanguíneos, alguns tipos de doenças renais, alterações inflamatórias do aparelho gastrintestinal, diversas afecções dermatológicas, alterações metabólicas várias, manifestações alérgicas, artrites reumáticas e rematóides, perturbações sexuais, comprometimento do sistema imunológico e algumas alterações tiroidianas. (p.99)
A Vulnerabilidade:
Lazarus e Folkman, 1984, referem-se à vulnerabilidade como adequação dos recursos individuais e especificamente da vulnerabilidade física, um órgão pode tornar-se vulnerável ao sofrer um impacto, ou se um organismo não está exposto com freqüência à determinada bactéria ou vírus, pode tornar-se vulnerável a eles. A vulnerabilidade psicológica é determinada tanto pelo déficit de recursos, como pelo relacionamento entre o padrão individual de habilidade em proteger-se de ameaças. Assim, vulnerabilidade também se refere a uma susceptibilidade para reagir em amplas classes de eventos com stress psicológico, que é formado por uma variedade de fatores pessoais, inclusive compromissos, crenças e recursos.
Para Lazarus, Raymond e Vogel, 1959, quanto maior a força de um compromisso, mais a pessoa torna-se vulnerável ao stress psicológico nesta área.
Lazarus,1984, relata que as enfermidades mais sérias são para algumas pessoas não somente uma ameaça à vida, mas também uma razão aceitável para evitar situações adversas ou mesmo uma maneira legítima de pedir ajuda ou atenção. Essa segunda situação é conhecida por “ganho secundário” dos sintomas, que podem ser interpretados como exemplos de custos e benefícios derivados de padrões de compromisso individual que são de difícil ação, mas pelos quais a enfermidade é legitimizada. O autor afirma que a alta expectativa de um compromisso, com um mau desempenho, torna as pessoas vulneráveis ao stress, a vulnerabilidade caminha junto com o compromisso, ou seja, maior é a vulnerabilidade para o stress quanto maior for o valor ou compromisso assumido ou exigido. O conceito vulnerabilidade, para Lazarus, alcança especial utilidade quando o padrão de vulnerabilidade da pessoa é comparado com outros, e podemos dizer que uma pessoa reage ao stress mesmo em situações em que outras não reagem. Essa vulnerabilidade nunca é um resultado somente de pessoas ou variáveis do meio ambiente, portanto a terapêutica deve ser construída ao redor de áreas específicas de vulnerabilidade e inaptidão de coping (enfrentamento) do paciente, assim como dos pontos fortes.
Visão da Gestalt-terapia sobre órgão de choque:
Stevens,1977, ao falar sobre polaridades, ressalta a importância da interdependência e cooperação entre os opostos para que haja uma relação sadia e alerta, e explica que o conflito entre os dois lados manifesta-se em alguma parte do corpo em uma batalha contínua. O autor diz que o mau uso constante de certa parte do corpo, sem a consciência disto, é muitas vezes o que predispõe esta parte a falhar e tornar a doença muito pior do que seria normalmente. Para ele, todos nós sofremos algum grau de desarranjo psicossomático e sobrecarregamos alguma parte do nosso corpo.
Segundo Stevens,1977, o importante, nesses casos, é tentar ouvir o que os sintomas têm a dizer.
Ele o mantém fora de perigo, lhe dá descanso quando há trabalho demais, tira-o de atividades desagradáveis às quais você não diz “não”, chama a atenção dos outros, dá-lhe castigo “merecido”, ajuda-o a evitar tarefas desagradáveis, etc.? Qualquer que seja a sua descoberta a respeito do que o sintoma faz por você, você pode explorar algumas formas, que não sejam ficar doente, para alcançar os mesmos resultados.(p.114)
Assim, o autor sugere que seria melhor que cada um tomasse consciência das necessidades do seu corpo, já que ignorar o que acontece e não respeitar os limites pessoais possibilita a chegada da doença. “Se um sintoma lhe propicia atenção e cuidado de outros, talvez haja algum outro modo de pedir atenção e cuidado. Muitas vezes, quando esta segunda alternativa surge, o sintoma melhora e desaparece” (p.114) conclui o autor.
Stevens encerra, referindo-se aos diálogos entre as partes que favorecem um melhor conhecimento sobre si, por tornar menos fragmentado e revelando maior consciência de seu funcionamento, levando a pessoa a uma vida mais centrada, simples e menos confusa. Assumindo responsabilidades pelo que fazem, as pessoas tornam-se aptas a lidar e agir de modo direto e honesto, tornando as suas ações mais eficazes e menos autodestrutivas.
Ivancko,2004, relata que segundo o “modelo Simonton”, que utiliza as bases psicossomáticas para compreender o câncer, o stress emocional causa inibição no sistema imunológico causando distúrbios hormonais, provocando assim a produção de células imperfeitas e malignas. O processo de inibição do sistema imunológico se inicia de 6 a 18 meses antes do diagnóstico do câncer.
Assim, pode-se compreender o processo da doença, que antes de se manifestar fisicamente, iniciou-se com um processo de stress, que leva a uma baixa imunológica sem que se tenha a percepção do que está acontecendo no corpo, até que um dia surge um diagnóstico. Porém, o diagnóstico seria o final de processo que já havia se iniciado há tempos.
Segundo Schnake,1995, a Medicina Psicossomática nunca pode resolver o enigma de por que um determinado órgão adoece e na medicina clássica o “locus minoris resistentiae” não é aceito. A proposta da autora é de fazer contato de um modo mais vivo e verdadeiro com o corpo que somos e a partir disso aprender a escutar as mensagens que o corpo nos envia. Escutá-lo como um amigo que vai sinalizando nossas deficiências e fantasias do que não queremos ver e que ao “delatar” tais dificuldades em forma de sintoma, revela a nossa realidade.
O presente trabalho pretende verificar e explicitar o teor dessas emoções contidas, buscando a expressão do sintoma através da conscientização do mesmo através dos significados do próprio sujeito.
Conceituando o Órgão de Choque:
Em livros e artigos de Psicossomática, freqüentemente se discorre sobre a manifestação das doenças nos órgãos de choque, sobre a vulnerabilidade, o impacto do stress, sobre os efeitos sofridos pelo órgão, porém não se encontrou referências sobre o processo no qual se “elege” um órgão de choque ou algum conceito que o defina.
Na ausência de um conceito teórico de órgão de choque, faremos uma definição, no sentido de compreendermos o contexto do órgão de choque ao qual estamos nos referindo.
Em se tratando da área médica, é comum que se atribua à fragilidade do órgão, à questão genética ou à vulnerabilidade aos vírus e bactérias por deficiências imunológicas.
Na psicologia há uma tendência a buscar justificativas no stress, traumas, e perfis psicológicos. Nenhum dos caminhos estaria totalmente correto ou errado.
Iniciaremos levantando as seguintes questões:
Se o órgão herdou geneticamente alguma fragilidade, por que alguns indivíduos expressam esta herança e outros não?
Se a carga genética for determinante para eleger o órgão de choque, não existe modo de se esquivar de tal herança?
Se o ambiente pode influenciar na vulnerabilidade do órgão que sofrerá os impactos, por que no mesmo ambiente temos diversidade na eleição do órgão de choque?
Se as emoções influenciam para determinar o órgão de choque, toda carga emocional semelhante desencadearia impacto no mesmo órgão de choque?
Se a história de vida, fragiliza determinado órgão, indivíduos com história de vida similares teriam o mesmo órgão de choque?
Se a exposição a determinado vírus ou bactéria é um fator determinante para adoecer, por que alguns indivíduos adoecem e outros não?
O que na realidade pode determinar a “escolha” do órgão de choque?
A partir desses questionamentos, concluímos que não há um único fator determinante capaz de explicar por que um órgão adoece ou torna-se o órgão de choque.
Ao que parece, a determinação da eleição de um órgão de choque é multifatorial, assim buscamos contextualizar o conceito na visão da Psiconeuroimunologia.
Vasconcellos, 2000, diz que todo fenômeno é total e precisa ser refletido nas suas seis dimensões: físico, químico, biológico (fisiológico), psicológico (mental e emocional), social e espiritual.
Cada um desses aspectos tem influência na eleição do órgão de choque, alguns em maior proporção, outros interferem em menor grau, mas esta integração de dimensões seria o fator determinante na fragilidade e na saúde de um órgão.
Essa compreensão faz com que cada indivíduo seja único, contrariando diversas teorias que insistem em tentar determinar uma patologia através de perfis psicológicos ou através da genética com a tentativa de justificar o adoecimento.
Em outros tempos, a própria pesquisadora buscou este padrão, já superado pela psiconeuroimunologia, na tentativa de encontrar um perfil nas pacientes de endometriose.
De acordo com Ivancko,1997, não se pode negar que existem algumas semelhanças entre portadores de uma doença, porém outras pessoas com um mesmo perfil psicológico não desenvolvem a mesma patologia.
Acreditamos que um perfil psicológico ou uma origem genética para as patologias, evoca, para uns, o alívio por não fazer parte do perfil mencionado ou não carregar consigo uma carga genética favorável à determinada doença. Para outros, que possam ter um perfil semelhante ao direcionado a uma patologia ou uma herança genética, tais possibilidades podem gerar medo ou uma sensação de “condenação” diante da aparente impossibilidade de um destino a ser escolhido. Foi inclusive noticiado, nos meios de comunicação, uma mulher com aproximadamente 30 anos que se submeteu a uma mastectomia bilateral por receio de vir a ter um câncer de mama, já que a mãe e a irmã haviam tido o referido câncer.
Por nossa herança cartesiana buscamos certezas e muitas vezes encontramos incertezas, queremos a segurança de algo que nos diga se vamos ou não adoecer e de que mal. Porém, frente ao novo paradigma, nos reportamos a Capra, 1995, que relata: “A física do século XX mostrou-nos de maneira convincente que não existe verdade absoluta em ciência, que todos os conceitos e teorias são limitados e aproximados.” (p.53)
Sobre a saúde Capra, 1995, explicita:
O motivo da exclusão do fenômeno da cura da ciência biomédica é evidente.É um fenômeno que não pode ser entendido em termos reducionistas.. Isto se aplica à cura de ferimentos e, sobretudo, à cura de doenças, o que geralmente envolve uma complexa interação entre os aspectos físicos, psicológicos, sociais e ambientais da condição humana. Reincorporar a noção de cura à teoria e à prática da medicina, significa que a ciência médica terá que transcender sua estreita concepção de saúde e doença. Isso não quer dizer que ela tenha que ser menos científica. Pelo contrário, ao ampliar sua base conceitual, pode tornar-se mais coerente com as recentes conquistas da ciência moderna. (p.116/117)
Quando dizemos que cada caso é individual, único e que apesar de ter alguma semelhança com outros casos da mesma patologia, seja pelo fator genético ou social, psicológico ou espiritual, físico ou químico, estamos concordando com o autor acima, que ao expor a visão sistêmica, explica: “Embora possamos discernir partes individuais em qualquer sistema, a natureza do todo é sempre diferente da mera soma de suas partes.” (p.260) E conclui que: “Reducionismo e holismo, análise e síntese, são enfoques complementares que, usados em equilíbrio adequado, nos ajudam a chegar a um conhecimento mais profundo da vida” (p.261)
Para formarmos o conceito de órgão de choque, neste momento, podemos dizer que:
Em relação à eleição deste órgão, as causas são multifatoriais, isto é, não se pode determinar exatamente qual (is) fator (es) tem influência e em que medida, para que um determinado órgão sofra os impactos na busca da homeostase do indivíduo.
Faz-se necessário neste momento esclarecer sobre o conceito de homeostase. Segundo Perls, 1977:
A homeostase é portanto, o processo através do qual o organismo satisfaz as suas necessidades. Uma vez que as necessidades são muitas e cada necessidade perturba o equilíbrio, o processo homeostático perdura o tempo todo. Toda vida é caracterizada pelo jogo contínuo de estabilidade e desequilíbrio no organismo. Quando o processo homeostático falha em alguma escala, quando o organismo se mantém num estado de desequilíbrio por muito tempo e é incapaz de satisfazer as necessidades, está doente. Quando falha o sistema homeostático o organismo morre. (p.20)
Capra, 1995, também fala da homeostase como sendo um estado de equilíbrio dinâmico, transacional, e de muita flexibilidade onde o sistema tem um grande número de opções para interagir com seu meio ambiente.
Assim, podemos dizer que o órgão de choque é o órgão que delata a falha homeostática e de certa forma indica ao indivíduo que “algo” diferente está ocorrendo.
Além de denunciar a falha homeostática, podemos observar no órgão de choque uma característica temporal, ou seja, se o órgão em questão denuncia uma necessidade não satisfeita, não receberá mais impactos na medida em que o organismo satisfizer essas necessidades. O que ocorre é que alguns indivíduos satisfazem o processo homeostático em horas, outros em meses e outros levam a vida toda sem se dar conta de que essas necessidades existam ou que possam ser satisfeitas. Assim, um órgão de choque pode ser “eleito” por horas, meses ou por toda uma vida.
Em alguns casos o órgão de choque adoece a ponto de ter que ser retirado cirurgicamente. Nestes casos a energia que era canalizada ao órgão é deslocada a um outro órgão, pois a necessidade que aquele órgão, agora retirado, continha, não foi satisfeita, desta forma a energia será deslocada para outro órgão ou manter-se-á no local da amputação.
Sheldrake, 1995, estudando amputados e membros fantasmas, relata que:
O próprio corpo é organizado e invadido por campos. Assim como os campos eletromagnético, gravitacional e de matéria quântica, os campos morfogenéticos moldam seu desenvolvimento e mantém sua forma. (p. 119)
O que significa que amputar um órgão doente não altera o seu campo energético sob o ponto de vista dos estudos de física quântica.
Processo semelhante também é percebido quando há supressão medicamentosa e ocorre o deslocamento de sintoma, assim, popularmente acredita-se que houve uma cura, pois o sintoma inicial já não se apresenta, entretanto um “novo” sintoma aparece. O que ocorre é o órgão de choque ao sofrer um “impedimento” em se manifestar canaliza essa energia a um outro órgão.
Neste aspecto, Vithoulkas, 1981, ressalta que:
Para a eficácia de qualquer terapia é obvio que o médico deve cooperar com esse processo, sem jamais desviar-se dele.Como o mecanismo de defesa já está reagindo com a melhor resposta possível, qualquer desvio na direção da sua atuação terá inevitavelmente um menor grau de eficácia. É por isso que as terapias baseadas nas teorias intelectuais e na compreensão parcial da totalidade apenas podem inibir o processo de cura e, freqüentemente, produzir danos reais ao organismo através da supressão.(p. 137)
À luz da ciência os organismos extraem energia do meio ambiente, as plantas a absorvem do sol através da fotossíntese e os animais retiram energia química através da digestão dos alimentos e da respiração. Essa energia é acumulada em seus corpos e utilizadas para por em ação seus movimentos e comportamento.
Sheldrake, 1991, explica a energia:
... a vida envolve tanto um fluxo de energia, que pode ser entendido como um aspecto do fluxo de energia universal, como um princípio formativo, que dá a um organismo os propósitos em direção aos quais seus processos de vida são atraídos. (p.104)
Essa energia como princípio formativo é aquela a qual nos referimos quando falamos da energia canalizada ao órgão de choque.
Essa energia pode ser mobilizada por qualquer um dos pilares do hexágono: físico, químico, biológico (fisiológico), psicológico (mental e emocional), social e espiritual.
HEXÁGONO INTEGRATIVO

(figura 1) – ilustração - Ivancko 2006
Cabe aqui comentar que a medicina tradicional chinesa já tinha desenvolvido a noção de qi (ch’i), bastante semelhante com o conceito quantizado da física moderna.
Inclusive, Capra, 1995, comenta que: “... o ch’i é concebido como uma forma tênue e não perceptível de matéria presente em todo o espaço e que pode condensar-se em objetos materiais sólidos.” (p.162)
Assim o objetivo da acupuntura é estimular o fluxo do qi (ch’i) através de seus caminhos, os meridianos, para o restabelecimento da energia vital, a saúde.
A homeopatia de Hahnemann, atua principalmente no pilar da física e Vithoulkas, 1981, situa este pilar na visão homeopática, além de nos explicitar energeticamente o caráter temporal mencionado anteriormente:
... considerar a força vital do organismo humano em termos de vibração eletrodinâmica envolve, obviamente, um grau de complexidade enorme. A vibração resultante desse organismo complexo é, sem dúvida, altamente complicada, pois ela muda a cada momento não apenas em freqüência, bem como em amplitude. É por isso que o nível da força vital do organismo humano é considerado o plano dinâmico que afeta todos os níveis do ser de uma vez e em graus variados de harmonia e força. É um processo altamente complexo, fluido, flexível e energético, respondendo e afetando simultaneamente o ambiente circundante. (p.122/123)
A base da terapêutica de Hahnemann diz que o primeiro sinal de desarmonia ocorre no campo eletromagnético e este por sua vez aciona os mecanismos de defesa.
Vemos esse desencadear de fatos, como uma visão didática para explicar o fenômeno sob a óptica da homeopatia e questionamos mais uma vez se existe uma seqüência lógica no desencadear do adoecimento ou se todos os pilares do hexágono são mobilizados concomitantemente, mesmo que não estejamos observando-os.
Como vimos, qualquer um dos pilares do hexágono integrativo, ou a combinação deles, pode modificar o fluxo energético do indivíduo, porém neste momento e no presente trabalho estaremos focando uma única relação entre o biológico e o psicológico e vice-versa. Ressaltamos que não há como ignorar todas as outras relações do referido hexágono, porém nos propusemos a um olhar mais cuidadoso ao órgão de choque e sua relação com o funcionamento psíquico do sujeito, fazendo um recorte no foco que desejamos observar.
Considerando o pilar psicológico e dentro dele, focando as emoções e sentimentos, iniciamos com uma citação de Pierrakos, 1990:
...as emoções positivas e negativas fluem na mesma corrente de energia. Elas diferem apenas pela qual a corrente é acelerada ou desacelerada – na sua carga energética ... As interações entre os indivíduos criam um intercâmbio mútuo de emoções, energias e experiências. Essa interação expressa mutualidade, que é um movimento que unifica diferentes partes num todo. Leva à capacidade de manter o prazer e de manter maior movimento de energia no corpo. A energética da Essência enfatiza a importância de assumir total responsabilidade pela própria realidade física e principalmente compreender a falta de conexão com o fluxo de energia no corpo,ou a falta de fluxo que aparece nos blocos de energia. (p.272/273)
Vários autores, incluindo Pierrakos, 1990 e Goleman, 1999, referem-se a emoções negativas ou positivas. O segundo autor cita inclusive que:
... o peso dos dados científicos mostra que o vínculo entre as emoções e a saúde é particularmente forte no caso dos sentimentos negativos: raiva, ansiedade e depressão. Esses estados quando intensos e prolongados, são capazes de aumentar a vulnerabilidade à doença, piorar os sintomas ou retardar a recuperação. Por outro lado, estados mais positivos como a equanimidade e o otimismo parecem exercer um efeito salutar sobre a saúde – embora dados sobre o impacto na saúde das emoções positivas não sejam tão fortes quanto o caso das emoções negativas. (p.43)
Quando se classifica as emoções como positivas ou negativas, culturalmente impregnadas de um cunho valorativo ou pejorativo, estamos direcionando o indivíduo para o que ele deve ou não sentir, por isso preferimos chamá-las de prazerosas e não prazerosas, onde o referencial de classificação fica por conta do próprio indivíduo que as sente.
Também nos chama a atenção de que emoções podem ter razões evolucionárias e ou transformar-se em estímulos- emocionais –competentes (eec – denominação de Damásio) no curso da experiência individual (inclusive podem ser estimuladas pela memória ou evocação imaginativa), como relata Damásio, 2004. Segundo o autor, das áreas cerebrais mais importantes identificadas como desencadeadoras de emoção, encontramos a amídala, córtex pré-frontal ventromedial, prosencéfalo basal, hipotálamo e núcleos do tronco cerebral.
Os sentimentos, pensamentos e imaginação são registrados nas regiões do córtex cerebral, em especial os córtices do lobo frontal no polo frontal e das regiões laterais. Damásio, 2004, salienta que também monitorou vários parâmetros fisiológicos que se manifestavam no início da fase de sentimentos, assim como ritmo cardíaco e condutância cutânea no momento atuante da emoção, seguidos por alterações de temperatura corporal, estados de dor, o corar da pele, arrepios, comichão, sensações viscerais e genitais, estado da musculatura lisa dos vasos sanguíneos e das paredes das vísceras, o pH local, nível de glicose, osmolaridade e presença de agentes inflamatórios, no momento em que o indivíduo identifica os sentimentos.
A partir da sensação da emoção que ocorre no sistema límbico, podemos, por vezes, orientar corticalmente alguns comportamentos posteriores à reação límbica, mas não podemos impedir a emoção.
Nosso corpo está preparado para receber os impactos, inclusive liberação hormonal das emoções intensas. O que pode causar falhas homeostáticas são os estados intensos e prolongados, como referiu Goleman,1999.
Ao que se refere às emoções, Pert, 1999, apresentou resultados de pesquisas que demonstram que agentes bioquímicos são o substrato fisiológico das emoções. A autora relata que as células se comunicam através das sinapses e que os peptídeos têm a habilidade de se ligarem a outros peptídeos e neuropeptídeos transmitindo informações. Assim os neuropeptídeos, nomeados de “moléculas de emoção” pela autora, percorrem todos os sistemas do nosso corpo, parecendo-se com micro cérebros móveis, levando informações de emoções para todas as células.
O primeiro tipo de ligação contém os neurotransmissores clássicos, são pequenas moléculas de difícil controle, conhecidas como acetilcolina, norepinefrina, dopamina, histamina, glicina, GABA (ácido gama- aminobutirato) e serotonina.
A segunda categoria de ligações é composta por esteróides que se iniciam como colesterol e através da bioquímica podem se transformar em hormônios sexuais: testosterona, estrógeno e progesterona ou em outros tipos de hormônios como o cortisol que são secretados pelas glândulas adrenais quando o indivíduo está sob stress.
A terceira categoria é a que Pert, 1999, classificou como as “moléculas de emoção”. Esses receptores são moléculas compostas por ínfimos aminoácidos, ou seja, proteínas, que se aglomeram na membrana celular esperando que a chave química certa chegue a eles através do fluido extracelular. A chave química, ao se ligar ao receptor, transmite a informação que ela carrega e assim se estabelece a ligação. Ao receber a mensagem, o receptor a transmite ao interior da célula, assim, esta célula pode ser modificada bioquimicamente, podendo provocar no indivíduo mudanças de comportamento, atividades físicas ou mesmo de humor.
Há controvérsias entre os autores em se distinguir, classificar e enumerar emoções e sentimentos. Adotaremos o conceito de Damásio, 2004, que diz que as emoções precedem o sentimento e justifica da seguinte forma: “As emoções foram construídas a partir de reações simples que promovem a sobrevida de um organismo e que foram facilmente adotadas pela evolução” (p.37)
E quando o autor se refere às emoções primárias, elege as seguintes emoções:
medo, raiva, nojo, surpresa, tristeza e felicidade.
Convidamos, neste momento, o leitor a fazer uma observação a partir de suas próprias emoções, respondendo como se sente e que sensações corporais seriam percebidas em situações como essas:
1) Passeando no zoológico e ao passar pela jaula do leão percebe que não há
leão, vê a porta da jaula aberta e há sinais de sangue próximo ao local.
2) Acordando de manhã para trabalhar, saindo atrasado, vê o pneu do seu
carro furado.
3) Alguém dá um forte espirro e você é atingido pelo catarro.
4) Tocam a campainha de sua casa, você abre a porta e encontra uma cesta
de flores.
5) Receber a notícia do falecimento de um bom amigo.
6) Saber que aquele encontro tão esperado foi marcado.
Se ficarmos atentos à emoção, poderemos observar que nosso corpo reage a elas de modos distintos, depois nomeamos a emoção e passamos ao sentimento que a emoção nos trouxe, assim como expressamos uma reação à emoção e ao sentimento.
Quanto ao pilar social, vemos o ser humano envolvido em sua época, país em que vive, cultura, política, economia, crenças, costumes, família, trabalho, relações sociais, lazer, relações familiares entre outros aspectos. Prefiro não me estender em cada um desses itens que são de extrema importância, mas também familiares ao leitor.
Quero ainda falar do último, porém não menos importante pilar do hexágono integrativo: a espiritualidade. Espiritualidade esta, desvinculada de religiosidade, de crenças impostas, mas produto de uma reflexão pessoal, íntima e profunda.
Quando pensamos em espiritualidade, nos vem em mente um poder criador, a natureza, respeito a si e ao próximo, a ética, a moral, integridade, ciência, amor, dignidade e tantas outras possibilidades, que seria difícil enumerá-las.
Ao se falar de espiritualidade, é indispensável que se cite Frankl,1978, cujos trabalhos científicos estão sempre calcados neste aspecto. Assim explica o autor que: “... o físico é dado pela hereditariedade – o psíquico é dirigido pela educação; o espiritual, contudo, não pode ser educado, tem que ser realizado – o espiritual “é” só na auto-realização, na “realidade da realização” da existência.” (p.131)
O autor, como existencialista, reflete sobre a liberdade e conclui que:
Poderíamos ainda dizer o seguinte sobre a liberdade do espiritual: já por definição, espiritual é apenas a parte livre do homem. Chamamos de “pessoa” a priori, geralmente, só que ao que se comporta como ser livre. A pessoa espiritual é, no homem, o que se pode opor sempre e em qualquer tempo a cada posição, não só no exterior como no interior. “Posição interior” é, todavia, justamente a que se identifica como “disposição” (com isso, designa-se, de passagem, algo de equivalente ao “caráter”). (p.159)
Agora vejamos a posição do biólogo, Sheldrake,1991, falando da espiritualidade:
Num mundo mecanicista, a adoração à natureza não faz sentido... Tudo o que importa é tentar entender a natureza de modo que ela possa ser controlada para servir a finalidades humanas. No processo evolutivo e na evolução da vida sobre a Terra, ela é imensamente mais criativa do que o homem. Ela é a fonte da vida, e gera miríades de formas com criatividade inexaurível. Ela abrange todos os processos materiais; ela é o fluxo cósmico de energia; ela está em todos os campos físicos; ela é o acaso, e é a necessidade impiedosa. Na verdade, se Deus não existe, ela é tudo. (p.192)
Sheldrake,1991, volta a afirmar a existência de Deus:
Num contexto cristão, pode-se imaginar que os campos são um aspecto do Verbo e que a energia é um aspecto do Espírito. Se o Verbo e o Espírito de Deus são imanentes no domínio da natureza e imanentes no processo criativo, então Deus deve estar evoluindo junto com a natureza. Ao mesmo tempo, Deus, de certa forma, dá a esse processo o seu propósito global... (p.201)
Também incluímos Hawking, 2000, questionando sobre o criador após profundas explanações sobre a física quântica:
Mas se o universo for totalmente autocontido, sem singularidades ou limites e completamente descrito por uma teoria unificada, haverá profundas implicações no papel de Deus como criador. Einstein uma vez formulou uma pergunta: ‘Que nível de escolha Deus teria tido ao construir o universo?’Se a proposta do não limite for correta, ele não teve qualquer liberdade para escolher as condições iniciais. Teria tido, ainda naturalmente, a liberdade de escolher as leis, a que o universo obedece. Isto, entretanto, pode realmente não ter sido um grau assim tão elevado de escolha; pode ter sido apenas uma, ou um pequeno número de teorias completas unificadas, tal como a teoria da corda heterótica, que são autoconscientes e permitem a existência de estruturas tão complexas quanto os seres humanos, que podem investigar as leis do universo e fazer perguntas acerca da natureza de Deus. (p.236/237)
Para encerrar, Goswami, 2000, em entrevista na TV Cultura do Brasil relatou como a ciência atual, em especial a física quântica, explica a presença de Deus:
Eu diria que a revolução que a física quântica trouxe com três conceitos revolucionários: movimento descontínuo, interconectividade não localizada e finalmente somando-se ao conceito de causalidade ascendente da ciência newtoniana normal, o conceito de causalidade descendente; a consciência escolhendo entre as possibilidades, o evento real, esses são os três conceitos revolucionários. Então se houver causalidade descendente, se pudermos identificar essa causalidade descendente, como algo que está acima da visão materialista do mundo, então Deus tem um ponto de entrada. Agora sabemos como Deus, se quiser a consciência, interage com o mundo. Através das possibilidades quânticas.
Desta forma que Goswami, 2000, inicia sua entrevista e afirma que em breve, Deus será objeto da ciência e não mais da religião.
Levando-se em conta os seis pilares do hexágono integrativo, vamos concluir a conceitualização do Órgão de Choque.
1) O Órgão de Choque tem causas multifatoriais.
2) O Órgão de Choque pode ser mutável e temporal.
3) O Órgão de Choque recebe a carga energética advinda de disfunções do organismo, delatando uma falha homeostática.
4) O Órgão de Choque não é necessariamente um órgão doente.
5) Levanta-se a hipótese de que um órgão de choque possa se tornar um órgão doente depois de receber sucessivos impactos energéticos.
6) Se tratarmos o Órgão de Choque estaremos cuidando da profilaxia.
Profilaxia nos parece ser uma palavra de ordem em direção à saúde. A medicina atual tem caráter curativo, busca soluções para os problemas já instalados, mas com exceção do caso das vacinas, preventivas, não vivemos numa cultura de saúde profilática.
Concordamos com Capra, 1982, que qualquer mudança no sistema de saúde necessitaria de uma política econômica e social diferentes, pois o atual sistema tornou-se a principal ameaça à nossa saúde.
O autor propõe um caminho para a saúde bastante árduo, porém dentre os objetivos propostos por ele, incluímos o nosso trabalho sobre órgão de choque, onde Capra, 1982, diz: “O objetivo da educação para a saúde será fazer com que as pessoas entendam como seu comportamento e seu meio ambiente afetam sua saúde e ensiná-las a enfrentar o estresse em sua vida cotidiana.” (p.326)
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