28.5.11

EP # O Tantra Hindu

A PSICOLOGIA DO TANTRA: UM CAMINHO PARA A INTEGRAÇÃO DOS OPOSTOS E PARA A AUTO-REALIZAÇÃO


A palavra tantra vem da raiz tan, que significa “continuar, multiplicar, expandir”. Na índia antiga, segundo Charles Breaux, era usada com o significado de “entrelaçar”. Os iogues a usaram para representar a natureza entrelaçada do mundo e de nossas ações e a interdependência essencial de tudo o que existe, baseada na dança dos opostos: masculino-feminino, bem-mal, luz-sombra, que vivem dentro de nós.

O tantra compreende que as mesmas forças cósmicas que movimentam o universo estão dentro de nós. Similar a física moderna, ele concebe que a energia é uma só, a mesma que se cristaliza para formar o mundo material é a mesma que transmutada, retorna ao mundo sutil e cósmico. Toda a energia do sexo, da emoção, do pensamento, e toda ação podem ser transformadas por meios hábeis em consciência plena.

O tantra Hindu compõe-se de metáforas e símbolos herdados diretamente de cultos antigos. O sistema apresentado pelo mesmo, parte da concepção que o universo é mantido a partir dos arquétipos divinos de Shiva e Shakti.

A realidade absoluta, isto é, a consciência original é denominada Shiva. O corpo do cosmos seria a amante de Shiva, denominada Shakti.

Shiva representa o aspecto masculino da divindade, a consciência pura, o imanifesto, o espírito imortal.

Shakti, o aspecto feminino da divindade, o aspecto material e manifesto da existência, o útero no qual todas as coisas foram geradas.

Segundo Charles Breaux, a simbologia sexual atribuída a Shiva e Shakti como amantes aponta para a sua interdependência e constituem de fato dois aspectos complementares de uma única realidade. Um não pode existir sem o outro. Shiva é o todo ilimitado; Shakti é a convergência progressiva de partes que permanentemente constitue o todo. Shiva é transcendente e imutável; Shakti é fenomenal e mutável.

Philip Rawson, em seu livro: Tantra, The Indian Cult of Ecstasy, descreve a visão tântrica do cosmos, como uma teia entertecida de vibrações, ou ressonâncias sutis. Originando-se na mais rarefeita “substância” da criação, esses padrões vibratórios se envolvem, e se fundem até solidificar-se. O som-substância provém do ornamento tilintante do tornozelo de Shakti no seu ato de dançar. À medida que os ritmos de sua dança se ampliam em complexidade e paixão, o tecido do universo é tecido em sete camadas principais de densidade. Os sete chakras são assim a representação microcósmica destes sete níveis de manifestação da realidade no macro cosmo.

A Energia adormecida de Kundalini Shakti

Segundo Charles Breaux, depois de Shakti ter criado o mundo, ela é imaginada hibernando nas profundezas do universo material. Dentro de nosso universo humano, as profundezas do poder material da natureza são simbolizadas pela Kundalini Shakti. Esta energia está adormecida, situada no primeiro chakra na base da coluna.

A palavra Kundalin significa “aquilo que é enrolado ou espiralado por natureza” e refere-se aos padrões espiralados de energia, encontrados em todo o mundo natural desde a molécula de DNA até a forma das galáxias. Quando a esta palavra é acrescentada à letra I, ela se torna Kundalini que quer dizer “Serpente”. Este animal ligada a terra, representa a força vital inconsciente da vida contida neste primeiro nível de nossa existência.

Na pessoa normal, a Kundalini flui pelos canais  esquerdo e direito, suprindo todos os órgãos dos sentidos e as faculdades de consciência que mantém a ilusão do mundo. Enquanto ela permanece inconsciente nós somos dominados por nossos instintos, desejos, e conceitos do self-ego.

As práticas do Yoga favorecem o despertar consciente de Kundalini, possibilitando ao iniciado uma descida ao seu inconsciente de modo orientado, levando-o a aprender a lidar com esta incrível força.

Através de uma prática perseverante da concentração e da meditação a Kundalini ascende através do canal central da medula, onde se situa o nadi Sushumna e leva o individuo a transcender as limitações do corpo físico, aprendendo a sutilizar as paixões e desejos, sendo capaz de ver o divino em todas as coisas.

O Simbolismo Arquetípico dos Chakras

Os chakras representam sete níveis de consciência expressos na manifestação da vida humana.

O sétimo chakra, no topo da cabeça, segundo Charles Breaux, representa a união de Shiva e shakti. No sexto chakra, no centro da cabeça, Shakti se separou de Shiva e criou o domínio da mente (manas). Os cinco chakras restantes, localizados desde o pescoço até a pélvis, representam cristalizações progressivas, simbolizadas pelos cinco elementos: éter, ar, fogo, água e terra.

Cada elemento representa uma qualidade energética e um equivalente nível de consciência. Fazendo um paralelo com a visão junguiana, podemos imaginar, diz ainda Charles Breaux, que os sete chakras desdobram-se a partir das profundezas do inconsciente coletivo, subindo pelo nível do inconsciente pessoal e do ego. Assim funções e imagens arquetípicas específicas são expressas através de cada chakra. Em suma, os sete chakras formam a matriz psíquica em que a forma única do corpo-mente é criada.

O inconsciente pessoal percebe e age sobre a emoção/informação de um modo literal, armazenando-a e dirigindo o comportamento mais ou menos como um computador pelo sistema nervoso autônomo. A memória de tudo que nos aconteceu está contida aqui. E, como uma interface entre a estrutura espaço-temporal do ego e a dimensionalidade de níveis mais profundos da psique, o inconsciente pessoal pode selecionar conteúdos que vão chegar futuramente à consciência.

Em termos tântricos, o impacto de experiências passadas estão depositadas como sementes cármicas no corpo-mente. Cada chakra  contém um número qualquer de padrões-sementes de experiências passadas – relacionadas com motivos arquetípicos – que definem a referência que temos para nossas vivências conscientes e inconscientes. Os padrões-sementes (Samskaras) eclipsam a energia da sabedoria agindo através de um chakra determinado e constituem obstáculos imensos à realização de nossa natureza búdica.

Cada chakra pode ser visualizado com a lente de um projetor de slides em que certas funções genéricas da psique são reveladas. A soma das “coleções de slides” em todos os chakras cria a ilusão da nossa identidade individual.

O acontecimento de entrarmos em contato consciente com as energias arquetípicas dentro de nós pode se dar de modo espontâneo a partir de alguma crise pessoal, também através das práticas tântricas do Yoga nós podemos despertar forças do inconsciente e torná-las consciente realizando, o que Jung chama o processo de individuação. Entretanto é preciso atenção com essas práticas, pois o mero despertar da Kundalini, ou fogo Dumo, não significa garantia automática de perfeição espiritual, se não for o buscador devidamente orientado, correrá o risco de sofrer desequilíbrios psicológicos.

Os tibetanos dizem que ativar o fogo de kundalini é como colocar uma cobra num bambu oco; ela tem apenas uma entre duas escolhas, sair por cima ou por baixo.

As práticas tântricas eram dirigidas não aos homens comuns, mas para aquelas pessoas que de fato almejassem um encontro profundo consigo mesmo. Assim os rituais e toda a simbologia das divindades que regem cada chakra são na verdade representações de arquétipos que há milhares de anos são o caminho para acessar o inconsciente profundo.

O primeiro chakra chama-se MULADHARA é representado por um lótus de quatro pétalas vermelhas cor de carmin, dentro da qual há um quadrado amarelo e dentro dele há um elefante branco com sete trombas e acima uma letra em sânscrito que representa o Bija mantra LAM e um triângulo invertido contendo dentro um linga com uma serpente enroscada com a cabeça tapando a cabeça do pênis.

As quatro pétalas simbolizam os quatro tipos de bem-aventurança experimentados quando a kundalini desperta. Essas pétalas são vermelhas cor de sangue e levam em cada uma delas uma letra do alfabeto sânscrito, gravada num amarelo brilhante ou ouro: (y) va, (sa) sa, (sa) sa,(sa) sa. Estas letras estão contidas em um quadrado amarelo representando o elemento terra, junto com o mantra semente Lam ( l). As quatro letras representam a vibração raíz e estão relacionadas com a respiração vital conhecida como Apana.O mantra semente Lam, dentro do quadrado invoca a primitiva divindade de Indra. O elefante branco é a montaria de Indra e é um sinal de prosperidade, de força e poder material. O triângulo invertido, o Yoni, representa a genitália feminina e o poder feminino da criação. Dentro dele a kundalini é mostrada enrolada três vezes e meia em um linga.

O triângulo invertido no centro do quadrado encerra a Kundalini não-manifesta em uma serpentina de três voltas e meia em torno do swayambhu-linga preto ou vermelho, símbolo da vida associada com a energia procriadora. No pericarpo se encontra a divindade que o preside, Brahma em vermelho escuro, com quatro faces de três olhos, quatro braços segurando um tridente, um jarro, um rosário, e em um mudra Abhaya, a postura de dissolução do medo. A divindade é o senhor do mundo grosseiro material e físico. O Chakra está associado com as qualidades de resistência e solidez, representando o elemento terra.

Indra é uma divindade masculina, o guerreiro, que simboliza a coragem e a força de vontade necessária para lidarmos com os poderes primitivos do nosso inconsciente. A serpente enroscada tapando o linga representa o controle dos instintos possibilitado pelas práticas tântricas, controle necessária para que o iniciado não seja cooptado palas forças cegas do inconsciente.

O casal de divindades que representa este nível são Bhrama menino, representando o aspecto criativo ainda em formação e Dakini é aquela que dá coragem aos fracos e assusta os audaciosos.

Os aspectos arquetípicos do primeiro chakra estão enraizados nas regiões mais primitivas da psique, ligando-nos com o tempo em que tínhamos uma relação instintiva com a Mãe Natureza.

O nível de consciência no primeiro chakra corresponde ao período pré-natal até o nascimento no qual nos sentimos unos com a nossa mãe e que a consciência é guiada pelas necessidades físicas. Neste nível formamos uma relação com nosso corpo, simbolicamente com todos os aspectos ligados à sobrevivência (nutrição, exercícios, satisfação dos sentidos, modo de obter o dinheiro e a capacidade de nos sentirmos seguros no plano físico.)

Este primeiro nível de realidade além de representar o plano material da vida, segundo a psicologia Junguiana, está ligado ao inconsciente Coletivo, à sobrevivência, a vida instintiva compartilhada por toda a humanidade.

O corpo e vida física seguem ritmos bem cadenciados. O respeito aos nossos ritmos biológicos é de fundamental importância para o equilíbrio psicofísico. Dedicar tempo e organizar-se para perceber a, hora em que o corpo pede para dormir, alimentar-se, ir ao banheiro, cuidar da higiene pessoal, manter relações sexuais, fazer atividade física, etc.

Pessoas com essas necessidades bem satisfeitas são mais saudáveis e conseguem adaptar-se mais satisfatoriamente na vida.

O segundo chakra chama-se Svadhisthana que quer dizer “o alicerce do Si-mesmo”, outra interpretação fala “sua morada especial” e ainda ”lugar de prazer”. Alguns iogues associavam o segundo chakra com a deusa serpente, a grande mãe ligada á cultos de fertilidade e orgias sexuais.

O segundo Chakra está localizado entre o umbigo e o osso pubiano. Psicologicamente se relaciona com os estágios pré-racional e de sonho da consciência, em que nenhuma identidade estável se estabeleceu ainda, durante os primeiros anos da infância.

Simbolicamente, possuem como elementos um lótus que leva em suas seis pétalas vermelho carmim as palavras sânscritas: ba ( ba), bha (bha), ma (ma), ya (ya), ra (ra) e la (la). No pericarpo, o elemento água é representado por uma lua crescente de cor branca com o mantra semente Vam que também é um símbolo para água, e, neste caso, um símbolo para imortalidade.

O mantra-semente VAM invoca a antiga divindade Varuna, o senhor do Mar. O veículo de Varuna é Makara, um monstro que vive no fundo do mar.Varuna é uma das divindades mais antigas da índia e pertence ao período Védico. Ele faz a passagem ritualística do Caos para o ser e dá forma aos entes, ele representa também a disciplina. Ele está montado em um animal com corpo de um delfim, uma cabeça de leão, tromba de elefante e uma cauda de pavão. O golfinho representa a inconsciência do desejo. O leão e o elefante são animais de enorme força reprodutiva. O pavão representa a beleza enquanto chamado ao erotismo.

A energia feminina é Rakini ou Chakini Sakti, em azul escuro, três olhos, quatro braços segurando um tridente, uma lotus, um tambor e um cinzel, assentada em uma lótus vermelha. A divindade protetora masculina é Vishnu com quatro braços. 

No nível de desenvolvimento do segundo Chakra despertamos para a consciência das sensações. Nossa consciência da sensação relaciona-se primariamente com reações prazerosas e dolorosas. Neste nível estamos preocupados se somos amados ou não e na segurança emocional que os outros nos transmitem  O desafio do segundo chakra é expandir, criar, conectar e criar laços com outros seres humanos. O sentimento natural do chakra do baço é expansivo, dinâmico, fluidez do vórtex espiral de energia.

A força essência do segundo chakra desperto é expansão e liberdade. Quando a nossa energia se sente fluída e desentulhada, nós nos aceitamos incondicionalmente, nós sabemos que somos dignos de amor, nós nos sentimos seguros para tocar e nos unirmos com outro, e espontaneamente nos encantamos com nossos feitos criativos.

O desenvolvimento da consciência plena deste chakra nos torna pessoas com uma grande capacidade de perceber o sentimento dentro de si mesmo e o do outro. O risco é de se ficar preso ao princípio do prazer, pois “se ficamos preso ao sublime ele se esgota”. A sabedoria é experienciar neste nível a fluidez da água e prestar atenção no seu curso.

No tantra, a sexualidade é vista como sagrada e cada ato no intercurso sexual é uma forma de adoração a divindade encarnada no parceiro.

O terceiro chakra chama-se Manipura. Esta palavra quer dizer Mani= Jóia Preciosa e Pura= Cidade, isto é, a cidade formosa das jóias brilhantes.

Na antiguidade Manipura era o nome de uma cidade da Índia localizada muito próximo da cidade de Puri. Esta cidade é citada no Mahabarata, como uma cidade mítica, na qual uma nova ordem reinará, uma ética da Verdade.              O terceiro chakra é representado por um lótus de dez pétalas que contém no centro um triângulo invertido de cor vermelha. O mantra-semente RAM invoca o deus do fogo sacrificial, Agni. O seu veículo é um carneiro.

O triângulo representa poder e aqui também os portões da cidade sagrada. O fogo aqui representado no centro da mandala simboliza o início do processo civilizatório, deixando o indivíduo de ser passivo e passando a experienciar seu self coletivo.

O animal dentro do triângulo – o cordeiro sacrificial – simboliza a renúncia á consciência do rebanho, da consciência passiva e submissa, a saída do rebanho e a introdução de uma ação política e consciente.

A divindade que preside é Rudra de cor vermelha com cinzas borrifadas sobre seu corpo e representa o mundo mental. A energia gerada por ele é LakismiShakti, em azul escuro, três faces e três olhos em cada face,quatro braços, segurando o fogo, um vajra e fazendo as mudras que garantem benefícios e dissipam os medos.

Rudra aparece como um velho. Na juventude, ele possue uma força incontrolável e indestrutível. Rudra aparece com uma lágrima simbolizando o domínio sobre a ira e o perdão. A divindade feminina complementar é Laskimi. Esta tem caninos avançados e cobertos de sangue e mantém afastados os covardes. Ela tem um olhar terrível para quem se aproxima, mas por outro lado ela tem dois gestos nas mãos: Um de proteção(apavana- eu te protejo) e outro de encorajamento(Vyana – Eu te encorajo). Ela tem uma dupla função de proteger e estimular o ego e reprimi-lo.

A função dos símbolos é promover uma regulação do fluxo da energia neste nível da vida, integrando os opostos. O risco é cairmos em um extremo ou no outro. O caminho da integração passa por uma aceitação da sombra e de uma assimilação da sua força criativa na consciência através o desenvolvimento de uma identidade firme e profunda.

No nível de consciência do chakra manipura somos convocados a compreender a problemática do poder de kundalini e chamados a aprender a lidar com ele de forma ética. No primeiro chakra nos deparamos com o problema da inserção do homem no mundo manifesto. No segundo, com o conflito entre o desejo da libido e as regras e contrato sociais. No terceiro, passamos por uma introdução a convivência com os semelhantes no meio social.

Esse nível de consciência marca o inicio da estruturação de um ego capaz de gerenciar os desafios da vida, despertando para o conhecimento tecnológico e sua capacidade de dominar as forças naturais. Assim, o ego obtém vontade sobre a vida instintiva do corpo e da emoção e uma capacidade para manipular o ambiente exterior.

A força deste chakra é a força da vontade. Quando nós sentimos o pulso de nossa própria energia no umbigo, nós alavancamos a fonte de nosso poder pessoal. Podemos encarar a vida com identidade e determinação, auto-suficiência e bem-estar. Nós temos o poder do desejo de ação, de integridade para saber o rumo correto da ação e a energia para fazer o que precisamos.

Relaciona-se com emoções no estado bruto, impulsos de poder no sentido de acalmar as emoções e frustrações e aliviar as tensões e ansiedades, além de estar ligado à identificação social.

A expressão pessoal pode ser usada positivamente para canalizar emoções e servir como veículo de auto descoberta, ou pode levar a uma megalomania quando tentamos validar nosso sentido de Self. O poder que recebemos dos outros na forma de atenção ou de adulação é utilizado para aumentar o amor-próprio.

O terceiro chakra ativa o árquetipo mitológico do herói. O herói é aquele que tem consciência dos opostos e tornando-se um guerreiro trava uma luta com sua própria sombra. Vencendo o mal com o bem. A consciência aqui é basicamente orientada pelo masculino.

A energia desse chakra pode ser usada para competirmos e retirarmos assim energia dos outros ou para irradiarmos encanto, calor, generosidade, tudo depende da consciência que tivermos desenvolvido que a fonte deste amor está dentro de nós.

O quarto chakra é chamado Anahata. A palavra significa “aquilo que não se quebra”.Outra versão é o não batido.O termo refere-se á vibração sutil que é o OM, e diz-se ele é ouvido interiormente em meditação quando Kundalini sobe ao chakra cardíaco. Este chakra tem doze pétalas vermelhas brilhantes, dentro delas encontramos dois triângulo de cor cinza interligados, formando um hexágono esfumaçado que representa o elemento ar, simbolizando o ponto de encontro do divino com o humano.

Acima do hexágono está o sol com uma radiação de “dez milhões de luzes”. O mantra semente, ‘bija’para o ar é (y) ‘yam’ apoiado sobre um cervo negro. O elemento deste chakra é o ar.

Nas concepções físicas da Índia, o ar é o elemento que dá coesão às estruturas atômicas e permite a comunicabilidade num nível sutil entre os entes. O despertar da consciência deste chakra faz com que a pessoa desperte para a sensibilidade, para a ternura e para a poética existente em um encontro.

No centro da mandala temos ainda um antílope e simboliza a sensibilidade e a beleza do olhar. Através do olhar podemos expressar a ternura e ser capaz de compreender o outro. A divindade que preside é Shiva de três olhos representa o sistema de todo o mundo onde as diversidades das realidades fenomenológicas de espaço e tempo são gradualmente revelados. A energia dele é chamada de Kakini Sakti em amarelo brilhante, uma única face com três olhos, quatro braços, segurando um laço e uma caveira, e fazendo os gestos para garantir os benefícios e dissipar os medos.

desafio do quarto chakra é nos abrirmos à vibração desapegada e sem julgamentos do amor universal. O sentimento natural no chakra do coração é o calor radiante profundo.

A abertura deste chakra gera no indivíduo uma forma de identidade mais abrangente, no qual a individualidade e a universalidade começam a se fundir.Abrir o coração dá início também uma relação íntima com a vida e com seu mistério. Cada passo nos leva a uma união mais íntima com o desconhecido e com o potencial infinito escondido em cada momento. Quando este centro se abre plenamente sentimos um profundo desejo que todos os seres sejam felizes e desfrutem do amor.

O nome em sânscrito para o quinto chakra é visudha. Visudha quer dizer “o perfeitamente purificado”, portanto o veículo do espírito.

No interior do seu lótus de 16 pétalas vermelhas esfumaçantes nós encontramos um círculo branco representando o elemento éter dentro de um triângulo invertido simbolizando o poder feminino da criação.No centro do círculo branco, encontramos um elefante branco com uma das suas sete trombas, elevada ao ar anunciando a vitória sobre as forças instintivas dos chakras inferiores. O mantra-semente é o elemento éter e o bija-mantra é Ham.

O quinto chakra é o chakra da comunicação e é o mediador entre as chamadas de entrada e saída do sistema nervoso. Quando a comunicação é maior do que o circuito neurológico pode suportar, ou quando há conflito entre estímulos mentais e emocionais, o circuito fica sobrecarregado e o corpo responde com tensão no pescoço e nos ombros.

O quinto chakra é o responsável pela expressão das emoções e quando há tensão na garganta podem representar emoções reprimidas. Quando a pessoa tem dificuldade de falar a cerca de seus sentimentos isto pode indicar um bloqueio nesse chakra.

No nível de consciência do Visudha há uma clara percepção do bem e do mal e uma busca de encontrar um caminho do meio. Para isso, é necessária a realização de uma purificação através da palavra, das metáforas, da criatividade.

A palavra nos dá a possibilidade de elaborarmos conteúdos psíquicos e assim ampliarmos a nossa percepção e compreensão do mundo, nos possibilitando um desapego de idéias e preconceitos, aquilo que Byngton chama de uma libertação da rigidez de uma consciência patriarcal, da imposição de regras e também dos condicionamentos instintivos. Esta liberação oportuniza o encontro de um equilíbrio entre os conteúdos da consciência e os do inconsciente, através da elaboração de símbolos que expressam a totalidade do nosso ser.

Assim, este chakra assinala a passagem para um domínio da consciência reflexiva, levando o indivíduo a libertar-se de comportamentos meramente instintivos e desenvolvendo novas dimensões do pensamento abstrato e maiores poderes para controlar ou dirigir deliberadamente os eventos e processos de vida.

No nível de consciência deste chakra aprendemos a ouvir e também a falar, aprimorando a nossa comunicação. Isto acontece num nível interno, nos dando maior capacidade de percebermos e compreendermos nossos conteúdos inconscientes e ao identificarmos velhos padrões, desenvolvermos programas e atitudes mais eficazes para o nosso crescimento, que estejam em sintonia com a nossa alma. O desafio do quinto chakra é liberar o nosso medo de nos comunicarmos com os outros e o mundo. O sentimento natural no chakra da garganta é ressonância vibratória livre.

O nome em sânscrito para o sexto chakra è Ajna, que significa “comando do Alto”. O diagrama hindu mostra duas pétalas de lótus ligadas a um disco lunar, considerado este como o reservatório para o néctar que goteja do lótus de mil pétalas no topo da cabeça.

No interior do disco lunar encontramos um triângulo invertido, símbolo dos órgãos genitais femininos, com um linga dentro dele. Há dois outros chakras que contém essa combinação de Yoni e linga: o Chakra-raiz e o cardíaco. È nesses três chakras que o poder da kundalini está concentrado. Também mencionados como “nódulos”, essas três concentrações estão associadas com os corpos físico, emocional e mental.

Dentro do triângulo do centro podemos encontrar ao lado do lingam o mantra OM, representando o espírito associado à mente pura, ou Buddhi. Acima do mantra-semente Om está um nadi e um bindu dourado, os quais, acrescentados ao OM criam o mantra pranava. Esse expressa a relação com o vazio e os fatores genéricos da criação.

A divindade é Paramasiva, como no Sahasrara; e é representado neste Chakra na forma de um bindu, um ponto simbolizando o inseparável Siva-Sakti, a unidade cósmica cuja consciência auto-iluminada é transcendente e unificadora. Sua energia é chamada Hakini ou siddhakali, e é no branco da Lua, seis faces, três olhos, seis braços segurando um livro, uma caveira, um tambor, um rosário, e fazendo a postura mudra de garantir os benefícios e dissipar o medo. Está sentada em um lótus branca. Sobre ela está um triângulo que espalha uma luz com um relâmpago; e acima deste está um outro triângulo que é o Self cuja luminosidade vai até o chakra básico Muladhara .

O sexto chakra se localiza no centro da cabeça. Está associado à faculdade da percepção e relacionado com o cérebro anterior e o córtex cerebral. Estes por sua vez, estão divididos em hemisfério direito e hemisfério esquerdo e nos dois modos básicos de percepção – Intuitivo e racional, respectivamente.

As pessoas que têm como foco o centro da cabeça são mais receptivas às informações emocionais e intuitivas. Ao invés de tentar manipular a vida elas intuem a natureza inerente do universo. Contudo, sem a influência equilibradora das faculdades racionais, esses tipos podem ter dificuldades de funcionamento dentro dos parâmetros racionais do mundo cotidiano.

As pessoas que vivem mais “racionalmente” – sempre pensando e esquematizando – mostram uma grande quantidade de energia psíquica na região da testa. Na verdade, a energia freqüentemente se distribui pelas sobrancelhas à medida que as forças do intelecto procuram controlar o mundo.

Essas pessoas são surpreendidas em seus próprios pensamentos e perdem o contato com “o que é”. Elas parecem ter uma necessidade neurótica de criar e seguir padrões conceituais rígidos, o que lhes dá uma sensação de segurança e conhecimento. Passam o tempo criando suas próprias imagens mentais do mundo e impondo-as à realidade.

Quando este chakra não está desenvolvido ou bloqueado, a pessoa sente uma dificuldade de ver e perceber com clareza a sua realidade. Elas podem se rebelar contra as perspectivas de vida que lhes foram impostas pela sociedade ou pelos pais, dificultando-lhe á adaptação ao convívio social.

Este chakra também tem relação com o desenvolvimento das capacidades de percepção extra-sensorial, isto é, potencial de clarividência, premonição e a habilidades de perceber energias sutis. Ver auras, ver os chakras, o futuro, vidas passadas ou seres desencarnados, todas são habilidades a que temos acesso com um sexto chakra  desenvolvido.

Quando despertamos para o nível de consciência deste chakra, adquirimos a capacidade do discernimento e do auto conhecimento. O tantra distingue mente e consciência. A mente é produto de um circuito bioquímico do cérebro e é o veículo da consciência. Ela possui funções comuns a toda a humanidade.

Os Yogues concebem um corpo mental para além do corpo físico, que faz parte do espectro de corpos sutis dos quais somos constituídos. Não é a mente que está no corpo físico ou no cérebro, o corpo e o cérebro é que estão na mente, ou corpo mental, o qual. Como o corpo astral, mas numa freqüência mais alta envolve o corpo físico.

Na meditação profunda, a mente torna-se concentrada e observadora e podemos ver como todos os fenômenos mentais são vazios. Neles não há “self’ a ser encontrado. A meditação em última instância leva á condição de” não mente’, um estado além da dualidade inerente às atividades mentais normais, para experimentar a pura lucidez da mente iluminada.

O chakra da coroa é denominado Sahasrara, em sânscrito. È o lótus de mil pétalas. As pétalas desse lótus estão pendentes para recobrir o portal do ser – a fontanela anterior( oponto mais mole na cabeça do bebê). Esse ponto mole começa a endurecer por volta de seis meses de idade, supostamente cortando nossa conexão com o mundo espiritual. Antigos iogues desenvolveram técnicas para reabri-lo. Diz-se que, se alguém puder deixar o corpo na hora da morte por esse centro, conscientemente alcançara a libertação.

Sobre as pétalas do lótus estão as cinqüenta letras do alfabeto sânscrito, repetidas 20 vezes, para totalizar mil. Essas letras cicundam o sahasrara da direta para a esquerda e tem origem nas linhas do Triângulo Supremo (Kamakala), a raiz de todo o som no centro deste Lótus Supremo. O triãngulo forma simbolicamente o corpo do som primordial imanifestado do qual deriva o universo. Os raios emitidos por esse lótus semelhantes aos raios da lua, são considerados o néctar da imortalidade.

Sahasrara, também chamado de Brahma-randhra, e é o local de encontro da Kundalini Sakti e Siva. As pétalas comportam o som potencial total representado por todas as letras do alfabeto sânscrito; cinqüenta em cada camada. O chakra sincroniza todas as cores, abrange todos os sentidos e funções e é penetrante em seu poder. A forma é o círculo transcendendo os vários planos em uma ordem ascendente, e, finalmente, o derradeiro estado de Mahabindu, o oco transcendental supracósmico e metacósmico. A lótus invertida simboliza a exposição do corpo sutil com as radiações cósmicas. O Sahasrara é o centro da consciência  quintessencial, onde a integração de todas as polaridades são experienciadas e o ato paradoxico da transcendência é conquistado passando-se para além do samsara e emergindo do espaço-tempo.

Neste nível, surgem as idéias relativas a “Deus”, ao mundo espiritual e à nossa relação com eles. Esses conceitos podem originar-se de vidas anteriores ou de doutrinação religiosa na vida presente.São crenças difíceis de questionar. Mais uma vez que as compreendamos, podemos perceber a universalidade da nossa experiência.

Neste nível podemos perceber a nossa alma e ter acesso ás regiões mais sublimes das dimensões interiores e aos seres espirituais. O desafio do sétimo chakra é sintonizar e se renderá consciência divina. O sentimento natural ou experiência que ocorre é unicidade, benção, pureza, e vazio além do espaço-tempo.

força essência é consciência e iluminação. A abertura do chakra coroa nos move para além da realidade tridimensional dos sentidos físicos e das formas, crenças e pensamentos. Nós percebemos, conectamos, nos fundimos e somos capazes de utilizar energias infinitas. O desconhecido se torna conhecido. Encontramos o significado transcendental da vida. Deus e eu, eu e Deus somos UM.

Práticas Tântricas

  • A prática da meditação com o foco na respiração.
  • A prática dos mantras. Mantra quer dizer “aquilo que protege a mente”. Mantras protege a mente dos pensamentos instáveis. Mantras são forças cósmicas personificadas na estrutura do som. São vibrações que tem o poder desfazer bloqueios e despertar a força da kundalini.
  • Os Yantras ou mandalas são expressões arquetípicas das dimensões transpessoais da psique encontradas no mundo. Representam os diversos sistemas e totalidades do universo de dentro e de fora de nós.Promovem um equilíbrio espontâneo dos opostos.
  • Rituais de religação com as forças sagradas, presentes na natureza e dentro de nós.
  • Mudras e Ásanas específicos para cada chakra

BIBLIOGRAFIA PESQUISADA

  1. Breaux, Charles – Jornada Rumo à Consciência – Os chakkras, o Tantra e a Psicologia Junguiana,são Paulo, Ed. Pensamento, 1995.
  2. Anodea Judith e Selene Veja – Jornadas de Cura – O desenvolvimento da mente e do corpo e do espírito através dos chakras, São Paulo, ED, Pensamento,1998.
  3. Feuerstein, George – A Tradição do Yoga, São Paulo, Ed.   Pensamento,2001.