O QUE É TEOSOFIA
"Ainda existe escola de filosofia que a cultura moderna perdeu de vista." Com estas palavras o Sr. A. P. Sinnett iniciou seu livro The Occult World, a primeira exposição popular da Teosofia, publicado há trinta anos (em 1881). Durante os anos que se passaram desde então, milhares têm aprendido a sabedoria nesta escola, mesmo que à maioria seus ensinamentos ainda sejam desconhecidos, e possam dar só a mais vaga das respostas à pergunta "O que é Teosofia?".
Já existem dois livros respondendo esta questão: O Buddhismo Esotérico, de A. P. Sinnett, e A Sabedoria Antiga, de A. Besant. Não pretendo competir com estes trabalhos modelares; o que desejo é apresentar uma exposição, tão clara e simples quanto a possa fazer, que possa ser considerada introdutória para eles.
Com freqüência falamos da Teosofia como sendo não uma religião em si, mas a verdade que subjaz em todas as religiões igualmente. Assim é; já, de um outro ponto de vista, podemos seguramente dizer que ela é a um tempo uma filosofia, uma religião e uma ciência. É uma filosofia porque nos apresenta com clareza uma explanação do esquema de evolução tanto das almas como dos corpos contidos em nosso sistema solar. É uma religião até onde, tendo nos mostrado o curso ordinário da evolução, também põe diante de nós e recomenda um método de abreviarmos este curso, de modo que por esforço consciente podemos progredir mais diretamente para o alvo. É uma ciência, porque trata estes dois assuntos como matéria não de fé teológica, mas de conhecimento direto obtenível através de estudo e investigação. Ela assevera que o homem não tem necessidade alguma de crer com fé cega, porque ele tem em si poderes latentes que, quando despertados, capacitam-no para ver e examinar por si mesmo, e passa a provar seu argumento mostrando como aqueles poderes podem ser despertados. Ela própria é um resultado do despertar de tais poderes pelos homens, pois os ensinamentos que nos apresenta são fundamentados sobre observações diretas feitas no passado, e tornadas possíveis apenas por tal desenvolvimento.
Como uma filosofia, explica-nos que o sistema solar é um mecanismo cuidadosamente ordenado, uma manifestação de uma vida magnificente, da qual o homem é apenas uma pequena parte. De qualquer modo, enfoca esta pequena parte que nos interessa diretamente, e trata dela de modo exaustivo sob três aspectos - presente, passado e futuro.
Trabalha com o presente descrevendo o que o homem realmente é, visto por meio das faculdades desenvolvidas. Costuma-se falar do homem como possuindo um alma; a Teosofia, como resultado da investigação direta, inverte a frase, e afirma que o homem é uma alma, e que possui um corpo - de fato diversos corpos, que são seus veículos e instrumentos nos diversos mundos. Este mundos não estão separados no espaço; estão simultaneamente presentes conosco, aqui e agora, e podem ser examinados; eles são divisões do lado material da natureza - diferentes graus de densidade na agregação de matéria, como em breve será explicado em detalhe. O homem tem uma existência em diversos deles, mas normalmente só é consciente do mais inferior, ainda que algumas vezes em sonhos e transes tenha vislumbres de alguns dos outros. O que é chamado morte é o abandono do veículo pertencente a este mundo inferior, mas a Alma ou homem real em um mundo superior já não é mudada ou afetada por isto mais do que o homem físico é mudado ou afetado quando remove seu casaco. Tudo isso é uma questão, não de especulação, mas de observação e experimento.
A Teosofia tem muito a nos dizer da história passada do homem - de como no curso da evolução ele veio a ser o que é hoje. Isto também é uma questão de observação, por causa do fato de que existe um registro indelével de tudo o que acontece - uma espécie de memória da Natureza - por cujo exame as cenas da evolução anterior podem ser feitas passar ante os olhos do investigador como se estivessem acontecendo neste exato momento. Por este estudo do passado aprendemos que o homem é divino em sua origem e que tem uma longa evolução atrás de si - uma evolução dupla, a da vida ou Alma interior, e a das formas externas. Aprendemos, também, que a vida do homem como Alma é, ao que nos parece, de enorme extensão, e que aquilo que por hábito costumamos chamar de sua vida na realidade é só um único dia da sua existência real. Ele já viveu por muitos desses dias, e tem muitos mais deles ainda à sua frente; e se desejamos entender a vida real e seu objetivo, devemos considerá-la em relação não só a este seu dia único, que inicia no nascimento e encerra na morte, mas também aos dias que se passaram antes e os que ainda estão por vir.
Dos que ainda estão por vir também há muito a ser dito, e neste assunto, igualmente, uma grande quantidade de informação definida é disponível. Tal informação pode ser obtida, primeiro, de homens que já passaram muito para diante do que nós ao longo da estrada da evolução, e conseqüentemente têm disso uma experiência direta; e, segundo, de inferências feitas a partir da direção óbvia dos passos que percebemos já terem sido dados anteriormente. A meta deste ciclo particular está à vista, mesmo que ainda muito acima de nós, mas pareceria que, mesmo quando a tivermos atingido, uma infinitude de progresso ainda estaria à frente de cada um que estiver querendo empreendê-lo.
Uma das mais extraordinárias vantagens da Teosofia é a de que a luz que nos traz de imediato resolve muitos dos nossos problemas, afasta muitas dificuldades, analisa as aparentes injustiças da vida, e em todas as direções traz ordem ao aparente caos. Pois enquanto que alguns de seus ensinamentos são baseados sobre a observação de forças cuja atuação direta está algo além do conhecimento do homem comum do mundo, se este a aceitar como hipótese muito cedo chegará a ver que deve estar correta, porque ela, e ela sozinha, fornece uma explicação coerente e razoável do drama da vida que está sendo representado diante dele.
A existência de Homens Perfeitos, e a possibilidade de entrarmos em contato com Eles e sermos ensinados por Eles, são proeminentes dentre as grandes novas verdades que a Teosofia traz ao mundo ocidental. Uma outra delas é o estupendo fato de que o mundo não está mergulhando cegamente na anarquia, mas que seu progresso está sob o controle de uma Hierarquia perfeitamente organizada, de modo que o fracasso para mesmo a mais minúscula de suas unidades é de todas as impossibilidades a mais impossível. Um vislumbre do trabalho desta Hierarquia inevitavelmente engendra o desejo de cooperar com ele, de servir nele, por mais humilde que seja a capacidade, e nalguma ocasião num futuro distante ser digno de juntar-se às mais externas de suas fileiras.
Isto nos leva àquele aspecto da Teosofia que chamamos de religioso. Aqueles que vêm a conhecer e entender estas coisas estão insatisfeitos com os morosos eons da evolução; eles anseiam por se tornar úteis mais imediatamente, e então procuram e obtêm conhecimento da Senda mais curta porém mais escarpada. Não há possibilidade de escapar à quantidade de trabalho que tem de ser feito. É como carregar um peso montanha acima; seja carregando-o por um atalho mais escabroso, seja mais gradualmente por uma estrada de aclive suave, precisamente o mesmo número de passos deve ser dado. Portanto fazer o mesmo trabalho em uma fração reduzida do tempo significa esforço determinado. Pode ser feito, contudo, pois têm sido feito; e os que o fizeram concordam que o trabalho é mais do que bem pago. A limitação dos vários veículos é com isso gradualmente transcendida, e o homem liberado se transforma num colaborador inteligente no poderoso plano para a evolução de todos os seres.
Em sua feição religiosa, também, a Teosofia dá aos seus seguidores uma regra de vida, baseada não em supostas ordenações proferidas num período remoto do passado, mas no simples bom senso, como indicado pelos fatos observados. A atitude do estudante de Teosofia em relação às regras que ela prescreve parece antes as que adotamos por medida higiênica do que uma obediência a imposições religiosas. Podemos dizer, se quisermos, que esta coisa ou aquela outra está de acordo com a Vontade Divina, pois a Vontade Divina é expressa no que conhecemos como leis da natureza. Porque aquela Vontade sabiamente dispôs todas as coisas, infringir suas leis significa perturbar o suave funcionamento do esquema, atrasar por um momento aquele fragmento ou pequena parte da evolução, e conseqüentemente trazendo desconforto para nós mesmos e outros. É por esta razão que o homem sábio evita infringí-las - não para escapar da imaginária ira de alguma deidade ultrajada.
Mas se de um certo ponto de vista podemos pensar na Teosofia como uma religião, devemos notar dois grandes pontos de diferença entre ela e o que é ordinariamente chamado de religião no Ocidente. Primeiro, ela não exige fé de seus seguidores, nem mesmo fala de fé no sentido em que este termo é usualmente empregado. O estudante da ciência oculta ou sabe uma coisa ou suspende seu julgamento sobre ela; não há espaço neste esquema para a fé cega. Naturalmente, os iniciantes no estudo ainda não podem saber por si mesmos, assim eles são solicitados a ler os resultados das várias observações e lidar com eles como hipóteses prováveis - para serem aceitas e agirmos em função delas provisoriamente, até o momento em que possam prová-las por si mesmos.
Segundo, a Teosofia jamais procura converter qualquer homem de qualquer religião que ele já abrace. Ao contrário, ela explica sua religião para ele, e o capacita para ver nela significados mais profundos do que ele jamais conhecera antes. Ela o ensina a entendê-la e vivê-la melhor do que o fazia, e em muitos casos devolve a ele, em um nível mais inteligente e mais alto, a fé que ele previamente havia perdido toda.
A Teosofia têm seu aspecto de ciência também; é verdadeiramente uma ciência da vida, uma ciência da Alma. Ela aplica a tudo o método científico da observação reiterada e meticulosa, e então tabula os resultados e faz deduções a partir deles. Deste modo tem investigado os vários planos da Natureza, as condições da consciência humana durante a vida e após o que é comumente chamado de morte. Não pode ser demais repetir que suas asserções em todos estes pontos não são vagas presunções ou dogmas de fé, mas são baseadas em direta e muitas vezes repetida observação do que acontece. Seus investigadores têm tratado já em alguma extensão de assuntos mais no âmbito da ciência comum, como pode ser averiguado por quem ler o livro A Química Oculta.
Assim vemos que a Teosofia combina em si algumas das características da filosofia, da religião e da ciência. Qual, poderia ser perguntado, é seu evangelho para este mundo atribulado? Quais são os pontos principais que sobressaem de suas investigações? Quais são os grandes fatos que tem para apresentar à humanidade?
Eles têm sido bem resumidos em três pontos principais.
"Há três verdades que são absolutas, e que não podem ser ignoradas, ainda que possam continuar silentes por falta de divulgação.
"A alma do homem é imortal, e seu futuro é o futuro de uma coisa cujo crescimento e esplendor não têm limites.
"O princípio que concede vida reside em nós e está conosco, é imorredouro e eternamente benéfico, não é ouvido ou visto ou sentido, mas é percebido pelo homem que deseja percepção.
"Cada homem é seu legislador absoluto, o dispensador de glória ou miséria a si mesmo; o decretador de sua vida, sua recompensa, sua punição.
"Estas verdades, que são tão grandes quanto a própria vida, são tão simples quanto a mente mais simples do homem."
Ditas com mais brevidade, e na linguagem do homem das ruas, isso significa que Deus é bom, que o homem é imortal, e que assim como semear, assim deve colher. Há um definido esquema das coisas; está sob direção inteligente e opera sob leis imutáveis. O homem tem seu lugar neste esquema e vive segundo estas leis. Se compreendê-las e cooperar com elas, avançará rapidamente e será feliz; se não as entender - se, propositalmente ou não, transgredí-las, atrasará seu progresso e será miserável. Isso não são teorias, mas fatos provados. Que quem duvida se informe, e verá.
Capítulo 2
DO ABSOLUTO ATÉ O HOMEM
Do Absoluto, do Infinito, do Onipresente, em nosso presente estágio não podemos saber nada, exceto que existe; não podemos dizer nada que não represente uma limitação, e portanto inexata. N'Ele existem universos inumeráveis; em cada universo, incontáveis sistemas solares. Cada sistema solar é a expressão de um poderoso Ser, a quem chamamos de Logos, o Verbo Divino, a Deidade Solar. Para o sistema Ele é tudo o que os homens entendem por Deus. Ele o permeia; não existe nada nele que não seja Ele; é a Sua manifestação nesta matéria o que podemos ver. Porém Ele existe acima e fora dele, vivendo uma vida estupenda entre Seus Pares. Como é dito numa Escritura Oriental: "Tendo permeado este universo inteiro com uma partícula de Mim mesmo, ainda permaneço."
Desta Sua excelsa vida não podemos saber nada. Mas do fragmento de Sua vida que energiza Seu sistema podemos saber algo nos níveis inferiores de sua manifestação. Não podemos vê-Lo, mas podemos ver Seu poder em ação. Ninguém que seja clarividente pode ser ateu; a evidência é por demais tremenda.
De Si mesmo chamou à existência este poderoso sistema. Nós que estamos nele somos fragmentos em evolução de Sua vida, Centelhas de Seu Fogo divino; d'Ele todos procedemos; a Ele todos retornaremos.
Muitos têm perguntado por que Ele fez isso; por que Ele emanou de Si mesmo todo este sistema; por que Ele nos enviou para enfrentarmos as tormentas da vida. Não o podemos saber, tampouco é uma pergunta prática; é bastante que estejamos aqui, e façamos nosso melhor. Porém muitos filósofos especularam sobre este ponto e muitas sugestões foram dadas. A mais bela que conheço é a de um filósofo Gnóstico:
"Deus é Amor, mas o próprio Amor não pode ser perfeito a não ser que tenha em quem ser derramado e de quem possa voltar. Portanto Ele se manifestou na matéria, e limitou Sua glória, a fim de que através desse processo natural e lento de evolução pudéssemos vir a existir; e nós por nosso turno de acordo com Sua Vontade nos desenvolveremos até atingir mesmo Seu próprio nível, e então o próprio amor de Deus se tornará mais perfeito, porque então será derramado naqueles, Suas próprias crianças, que plenamente o entenderem e retribuírem, e assim Seu grande esquema será completado e Sua vontade cumprida.'
Em qual estupenda altitude Sua consciência habita não sabemos, nem podemos conhecer Sua verdadeira natureza como se mostra lá. Mas quando Ele se manifesta em condições que estão dentro de nosso alcance, Sua manifestação é sempre tríplice, daí todas as religiões O terem imaginado como uma Trindade. Três, ainda que fundamentalmente Um; Três Pessoas (embora pessoa signifique máscara) e ainda Um Deus, mostrando-Se naqueles Três Aspectos. Três para nós, olhando-O de baixo, porque Suas funções são diferentes; Um para Ele, porque As reconhece como apenas facetas de Si mesmo.
Todos estes Três Aspectos estão envolvidos na evolução do sistema Solar; todas os Três também estão envolvidos na evolução do homem. Esta evolução é Sua Vontade; o método dela é o Seu plano.
Logo abaixo desta Deidade Solar, ainda que de um modo misterioso partes de Si, estão Seus sete Ministros, às vezes chamados os Espíritos Planetários. Usando uma analogia retirada da fisiologia de nosso próprio corpo, Suas relações para com Ela são como as dos gânglios ou dos centros nervosos para com o cérebro. Toda a evolução que procede d'Ela o faz através de um ou outro d'Eles.
Por sua vez, sob Eles estão vastas hostes ou ordens de seres espirituais, a quem chamamos de Anjos ou Devas. Ainda não conhecemos todas as funções que Eles preenchem em todas as partes deste maravilhoso esquema, mas encontramos alguns d'Eles intimamente ligados à construção do sistema e à expansão da sua vida interior.
Aqui em nosso mundo há um grande Oficial que representa a Deidade Solar, e está no absoluto controle de toda a evolução que têm lugar neste planeta. Podemos imaginá-Lo como o verdadeiro Rei deste mundo, e sob Ele existem ministros a cargo dos diferentes departamentos. Um destes departamentos está ligado à evolução das diferentes raças da humanidade, de modo que para cada grande raça há um Líder que a funda, diferencia-a das outras todas, e assiste o seu desenvolvimento. Um outro departamento é o da religião e educação, e é dele que saíram todos os maiores instrutores da história - de quem todas as religiões nasceram. O grande Oficial à testa deste departamento ou vêm Ele mesmo ou envia um de Seus discípulos para fundar uma nova religião quando decide que é necessário alguma.
Assim todas as religiões, à época de sua primeira apresentação ao mundo, têm contido uma definida apresentação da Verdade, e em seus fundamentos esta Verdade têm sido sempre a mesma. As suas apresentações têm variado por causa das diferenças das raças às quais foram oferecidas. As condições de civilização e o grau de evolução obtido pelas várias raças têm tornado desejável apresentar esta Verdade única sob diferentes formas. Mas a Verdade interna é sempre a mesma, e a fonte de onde sai é a mesma, mesmo que as fases externas possam parecer diferentes e mesmo contraditórias. É tolice para os homens disputar sobre a questão da superioridade de um instrutor ou de um modo de ensino sobre outro, pois o instrutor é sempre alguém enviado pela Grande Fraternidade de Adeptos, e em todos os seus pontos importantes, em seus princípios éticos e morais, o ensino têm sido sempre o mesmo.
No mundo existe um corpo de Verdade que jaz por trás de todas estas religiões, e representa os fatos da natureza até onde no presente são conhecidos pelo homem. No mundo externo, por causa de sua ignorância disso, as pessoas estão sempre disputando e questionando sobre se existe um Deus; se o homem sobrevive à morte; se lhe é possível progresso definido, e qual é sua relação para com o universo. Estas questões estão sempre presentes na mente do homem tão logo sua inteligência desperta. Não são irrespondíveis, como freqüentemente se supõe; as respostas para elas estão ao alcance de qualquer um que faça os esforços adequados para encontrá-las. A verdade é alcançável, e as condições para seu alcance são passíveis de conquista por qualquer um que faça o esforço.
Nos primeiros estágios do desenvolvimento da humanidade, os grandes Oficiais da Hierarquia são providos de fora, de outras e mais altamente evoluídas partes do sistema, mas tão logo os homens podem ser treinados para o necessário nível de poder e sabedoria estas funções são assumidas por eles. A fim de aprontar-se para assumir um tal ofício um homem deve elevar-se até um nível muito alto, e deve tornar-se o que chamamos de Adepto - um ser de bondade, poder e sabedoria tão grandes que Ele sobressai acima do resto da humanidade, pois Ele já terá atingido o ápice da evolução humana; Ele conquistou o que o plano da Deidade assinalou para que conquistasse durante esta era ou dispensação. Mas Sua evolução continua posteriormente além daquele nível - continua até a divindade.
Um grande número de homens já atingiu o nível de Adepto - homens não de uma só nação, mas de todas as principais nações do mundo - almas raras que com coragem indomável assediaram os castelos da natura, e arrebataram seus segredos internos, e adquiriram assim verdadeiramente o direito de serem chamados de Adeptos. Entre Eles há muitos graus e muitas linhas de atividade; mas sempre alguns d'Eles permanecem em contato com nossa Terra como membros desta Hierarquia que está incumbida da administração dos negócios do mundo e da evolução espiritual de nossa humanidade.
Este corpo augusto é freqüentemente chamado A Grande Fraternidade Branca, mas seus membros não são uma comunidade onde todos vivem juntos. Cada um d'Eles, em grande medida, retira-Se do mundo, e ficam em constante comunicação entre si e com Seu Líder; mas Seu conhecimento das forças superiores é tão grande que isso é conseguido sem qualquer necessidade de encontro no mundo físico. Em muitos casos Eles continuam a viver cada Qual em Seu próprio país, e Seus poderes permanecem insuspeitos aos que vivem perto d'Eles. Qualquer homem que quiser pode atrair Sua atenção, mas ele pode fazer isso apenas mostrando-se digno de Sua atenção. Ninguém deve temer que seus esforços passem impercebidos; tal lapso é impossível, pois o homem que se está devotando a um serviço como este, destaca-se do restante da humanidade como uma grande chama numa noite escura. Uns poucos destes grandes Adeptos, que ora trabalham pelo bem do mundo, desejam tomar como aprendizes aqueles que resolveram devotar-se completamente ao serviço da humanidade; tais Adeptos são chamados Mestres. Um desses aprendizes foi Helena Petrovna Blavatsky - uma grande alma que foi enviada para oferecer conhecimento ao mundo. Junto com o Coronel Henry Olcott ela fundou a Sociedade Teosófica para a disseminação deste conhecimento que ela devia dar. Entre aqueles que entraram em contato com ela naqueles velhos tempos estava A. P. Sinnett, o editor de The Pioneer, e seu agudo intelecto imediatamente captou a magnitude e a importância do ensino que ela lhe apresentou. Mesmo que Madame Blavatsky já tivesse antes escrito Ísis sem Véu, havia atraído apenas escassa atenção, e foi o Sr. Sinnett que primeiro tornou o ensino prontamente disponível aos leitores ocidentais com seus dois livros, O Mundo Oculto e Buddhismo Esotérico.
Foi através destes trabalhos que eu próprio primeiro vim a conhecer seu autor, e depois a própria Madame Blavatsky; de ambos aprendi muito. Quando perguntei a Madame Blavatsky como poderia aprender mais ainda, como se poderia fazer um progresso definido ao longo da Senda que ela nos apontou, ela me falou da possibilidade de outros estudantes serem aceitos como aprendizes pelos grandes Mestres, assim como ela mesma havia sido aceita, e que o único caminho de obter esta aceitação era mostrar-se digno dela pelo trabalho diligente e altruísta. Ela me disse que para atingir esta meta um homem deve ser absolutamente unidirecionado em sua determinação; que ninguém que tente servir Deus e Mammon jamais poderia esperar conseguir. Um destes mesmos Mestres disse: "A fim de conseguir, um discípulo deve deixar seu mundo e entrar no nosso."
Isto significa que ele deve cessar de ser um na maioria que vive pela riqueza e poder, e deve juntar-se à diminuta minoria que não se importa nada com estas coisas, mas vive somente a fim de devotar-se altruisticamente ao bem do mundo. Ela advertiu-nos claramente que o caminho era difícil de seguir, e que seríamos incompreendidos e vilipendiados por aqueles que ainda viviam no mundo, e não devíamos olhar à frente senão para o mais árduo dos trabalhos árduos; e ainda que o resultado fosse assegurado, ninguém poderia prever quando seria atingido. Alguns de nós aceitaram estas condições alegremente, e em nenhum momento nos arrependemos de tal decisão.
Depois de alguns anos de trabalho eu tive o privilégio de entrar em contato com estes grandes Mestres de Sabedoria; d'Eles eu aprendi muitas coisas - entre outras, como verificar por mim mesmo em primeira mão a maioria dos ensinamentos que Eles haviam dado. De modo que, neste assunto, escrevo do que sei, e do que tenho visto por mim mesmo. Certos pontos são mencionados no ensino, pois para sua verificação são necessários poderes além de qualquer coisa que eu já tenha obtido. Deles, só posso dizer que são consistentes com o que já sei, e em muitos casos são necessários como hipóteses confirmadoras do que tenho visto. Eles me chegaram, junto com o resto do sistema Teosófico, com a autoridade destes poderosos Instrutores. Desde então eu tenho aprendido a examinar por mim mesmo a de longe maior parte do que me foi dito, e tenho descoberto que a informação dada a mim está correta em cada detalhe; portanto justifica-se que eu defenda a probabilidade de que aquela outra parte, a que eu ainda não posso verificar, também provará estar correta quando eu chegar naquele nível.
Obter a honra de ser aceito como um aprendiz de um dos Mestres da Sabedoria é o objetivo definido por cada estudante Teosófico sério. Mas significa um esforço definido. Sempre têm havido homens que estiveram desejosos de fazer o esforço necessário, e portanto sempre têm havido homens que souberam. O conhecimento é tão transcendente que quando um homem o incorpora plenamente se torna mais que um homem, e passa além de nosso alcance.
Mas há estágios na aquisição deste conhecimento, e podemos aprender muito, se quisermos, daqueles que também ainda estão em processo de aprendizagem; pois todos os seres humanos estão em um ou outro degrau na escada da evolução. O primitivo está na base; nós que somos civilizados já escalamos parte do caminho. Mas ainda que possamos olhar para trás e ver degraus da escada que já passamos, também podemos olhar para a frente e ver muitos degraus acima de nós que ainda não atingimos. Assim como existem homens que estão mesmo agora em cada um dos degraus acima, por isso podemos ver os estágios pelos quais o homem subiu; assim também como há homens em cada degrau acima de nós, igualmente pelo estudo deles podemos ver como o homem subirá no futuro. Precisamente porque vemos homens em cada degrau desta escadaria, que conduz a uma glória que já não temos palavras para expressar, sabemos que a ascensão àquela glória nos é possível. Os que estão muito acima de nós, tão acima que nos aparecem como deuses em Seu maravilhoso conhecimento e poder, contam-nos que Eles até não muito tempo atrás estavam onde nós estamos agora, e Eles nos indicam claramente os passos que faltam, os que devemos dar se havemos de ser como Eles.
Capítulo 3
A FORMAÇÃO DO SISTEMA SOLAR
O início do universo (se jamais teve algum início) está fora de nosso alcance. No ponto da história mais remoto a que podemos chegar, os dois grandes opostos do Espírito e matéria, da vida e da forma, já estão em plena atividade. Acreditamos que a concepção comum de matéria requer uma revisão, pois o que comumente são chamadas força e matéria em realidade são somente duas variedades do Espírito em diferentes estágios de evolução, e a matéria real ou base de tudo jaz no pano de fundo impercebido. Um cientista francês disse recentemente: "Não há matéria; não há nada exceto buracos no éter." Isto também concorda com a celebrada teoria do Prof. Osborne Reynolds. A investigação oculta mostra que esta é a visão correta, e deste modo explica o que os livros sacros Orientais querem dizer quando falam que a matéria é uma ilusão.
A matéria primordial como vista em nosso nível é o que os cientistas chamam de éter do espaço (o que tem sido descrito na Química Oculta sob o nome de koilon). Para cada sentido físico o espaço ocupado por ele é aparentemente vazio, ainda que em realidade este éter seja muitíssimo mais denso do que qualquer coisa que possamos conceber. Sua densidade é definida pelo Prof. Reynolds como sendo dez mil vezes maior que a da água, o que significa uma pressão de 750.000 toneladas por polegada quadrada.
Esta substância é perceptível só ao poder clarividente altamente treinado. Devemos presumir um tempo (ainda que não tenhamos conhecimento direto neste ponto) quando esta substância preenchia todo o espaço. Devemos também supor que algum grande Ser (não a Deidade de um sistema solar, mas algum Ser quase infinitamente mais excelso que aquela) alterou esta condição de repouso ao derramar Seu espírito ou força dentro de certa seção desta matéria, uma seção do tamanho de um universo inteiro. O efeito da introdução desta força é como o do soprar de uma poderosa respiração; ela formou neste éter um incalculável número de pequenas bolhas esféricas (referidas na Doutrina Secreta como os buracos que Fohat abre no espaço), e estas bolhas são os átomos ultérrimos de que o que chamamos matéria é composta. Não são os átomos do químico, sequer os átomos derradeiros do mundo físico. Eles estão em um nível muitíssimo mais elevado, e o que usualmente chamamos átomos são compostos de vastas agregações destas bolhas, como será visto mais adiante.
Quando a Deidade Solar começa a formar Seu sistema, Ela encontra já pronto à mão este material - esta infinita massa de pequenas bolhas que podem ser construídas nos diversos tipos de matéria como a conhecemos. Ela começa definindo o limite de Seu campo de atividade, uma vasta esfera cuja circunferência é muito maior que a órbita do mais externo de Seus futuros planetas. Dentro do limite desta esfera Ela dispõe um tipo de vórtice gigantesco - um movimento que reúne juntas todas as bolhas numa vasta massa central, o material da nebulosa que há de nascer.
Nesta vasta esfera giratória Ela aplica sucessivos impulsos de força, juntando as bolhas em agregações cada vez mais e mais complexas, e produzindo desta maneira sete gigantescos mundos interpenetrantes de matéria em diferentes graus de densidade, todos concêntricos e todos ocupando o mesmo espaço.
Agindo através de Seu Terceiro Aspecto, Ela envia para esta esfera estupenda o primeiro destes impulsos. Ele produz em toda a esfera um imenso número de pequenos vórtices, cada qual atraindo para si quarenta e nove bolhas, e as arranja de certa forma. Estes pequenos agrupamentos de bolhas assim formadas são os átomos do segundo dos mundos interpenetrantes. O número total de bolhas não é utilizado deste modo, um número suficiente sendo deixado em estado dissociado para atuarem como átomos para o primeiro e mais elevado destes mundos. No devido tempo chega o segundo impulso, que captura quase todas as quarenta e nove bolhas atômicas (deixando só o bastante para suprir de átomos o segundo mundo), as recolhe em si e então, expelindo-as novamente, organiza vórtices entre elas, cada qual abrigando em si 2.401 bolhas (492). Estas formam os átomos do terceiro mundo. Novamente depois de algum tempo vem um terceiro impulso, que da mesma forma reúne quase todas estas 2.401 bolhas atômicas, devolve-lhes a sua forma original, e de novo as expele para fora mais uma vez como átomos do quarto mundo - cada átomo contendo esta vez 493 bolhas. Este processo é repetido até que o sexto desses impulsos sucessivos tenha construído o átomo do sétimo ou mundo mais inferior - um átomo que contém 496 das bolhas originais.
Este átomo de sétimo mundo é o átomo derradeiro do mundo físico - não qualquer dos átomos de que fala o químico, mas aquele ultérrimo dos quais seus átomos são feitos. Neste estágio nós teremos chegado àquela condição das coisas na qual a vasta esfera rodopiante contém em si sete tipos de matéria, todas uma só em essência, pois todas construídas do mesmo tipo de bolhas, mas diferindo em seu grau de densidade. Todos esses tipos são livremente entremesclados, de modo que exemplares de cada tipo sejam encontrados numa pequena porção tomada ao acaso de qualquer parte da esfera, entretanto, com uma tendência geral de os átomos mais pesados gravitarem mais e mais em direção ao centro.
O sétimo impulso enviado do Terceiro Aspecto da Deidade não transforma, como antes, de volta os átomos físicos que foram feitos por último nas bolhas dissociadas originais, mas reúne-os em certas agregações, fazendo assim um número de diferentes tipos do que podemos chamar de proto-elementos, e estes novamente são reunidos juntos em várias formas que são conhecidas na ciência como elementos químicos. Essas elaborações se estendem por um período de longas eras, e são feitas em uma certa ordem definida pela interação de diversas forças, como é corretamente indicado no trabalho de Sir William Crookes A Gênese dos Elementos. Na verdade o processo de sua elaboração mesmo agora ainda não está concluído; o urânio é o último e mais pesado elemento até onde sabemos, mas outros ainda mais complexos podem talvez ser produzidos no futuro.
Com o passar das eras a condensação aumentou, e logo o estágio de uma vasta nebulosa incandescente foi alcançado. Ao resfriar-se, mas ainda girando com rapidez, achatou-se em um imenso disco e gradualmente partiu-se em anéis em torno de um corpo central - um arranjo não dessemelhante daquele que Saturno exibe nos dias de hoje, ainda que numa escala muitíssimo maior. Aproximando-se o momento em que os planetas seriam necessários para os propósitos da evolução, a Deidade criou na espessura de cada anel um vórtice subsidiário, no qual uma grande quantidade de matéria do anel fosse gradualmente coletada. As colisões dos fragmentos reunidos provocou uma revivescência do calor, e o planeta resultante foi por longo tempo uma massa de gás incandescente. Pouco a pouco ela esfriou de novo, até que se aprontou para ser o teatro de vida como a nossa. Assim todos os planetas foram formados.
Quase toda a matéria desses mundos interpenetrantes a esta altura estava concentrada nos planetas recém-formados. Cada um deles era e é composto de todos aqueles diferentes tipos de matéria. A Terra sobre onde vivemos agora não é apenas uma grande bola de matéria física, construída com os átomos daquele mundo inferior, mas também tem associado um abundante suprimento de matéria do sexto, do quinto, do quarto e dos outros mundos. É bem sabido de todos os estudantes de ciência que partículas de matéria na verdade jamais tocam umas nas outras, mesmo na mais densa das substâncias. Os espaços entre elas estão em muitíssimo maior proporção do que seu próprio tamanho - enormemente maior. De modo que existe um amplo espaço para todos os outros tipos de átomos de todos os outros mundos, não só para permanecerem entre os átomos da matéria mais densa, mas para se moverem mui livremente por entre e em torno deles. Conseqüentemente, este globo sobre onde vivemos não é só um único mundo, mas sete mundos interpenetrantes, todos ocupando o mesmo espaço, exceto que os tipos mais finos de matéria se estendem para mais além do centro do que o faz a matéria mais densa.
Nós demos nomes a esses mundos interpenetrantes por conveniência ao falarmos deles. Nenhum nome é necessário para o primeiro, já que o homem ainda não está em conexão direta com ele; mas quando for preciso mencioná-lo, poderíamos chamá-lo de mundo divino. O segundo é descrito como sendo o monádico, porque nele existem aquelas Centelhas da Vida divina que denominamos Mônadas humanas; mas tampouco estas podem ser alcançadas mesmo pela mais elevada investigação clarividente por enquanto possível para nós. A terceira esfera, cujos átomos contêm 2.401 bolhas, é chamada de mundo espiritual, porque nele atua o mais alto Espírito no homem do modo como hoje ele é constituído. O quarto é o mundo intuicional (previamente chamado na Teosofia de plano búdico) porque dele provêm as mais altas intuições. O quinto é o mundo mental, porque de sua matéria é construída a mente do homem. O sexto é dito mundo emocional ou astral, porque as emoções do homem provocam ondulações em sua matéria (o nome astral lhe foi dado pelos alquimistas medievais, porque sua matéria é cintilante ou brilhante como estrelas, comparada àquela do mundo mais denso). O sétimo mundo, composto do tipo de matéria que vemos à nossa volta, é chamado de físico.
A matéria de que todos esses mundos interpenetrantes são construídos é essencialmente a mesma, mas diferentemente arranjada e em diferentes graus de densidade. Portanto as freqüências em que esses vários tipos de matéria normalmente vibram também diferem. Elas podem ser consideradas como uma vasta gama de ondulações consistindo de muitas oitavas. A matéria física utiliza um certo número das oitavas mais baixas, a matéria astral um outro grupo de oitavas logo acima destas, a matéria mental um grupo ainda mais elevado, e assim por diante.
Não só cada um destes mundos têm seu próprio tipo de matéria; também tem seu próprio conjunto de agregações desta matéria - suas próprias substâncias. Em cada mundo arranjamos estas substâncias em sete classes de acordo com a taxa em que vibram suas moléculas. Usualmente, mas não sempre, as oscilações mais lentas envolvem também uma molécula maior - uma molécula, digamos, construída por um arranjo especial das moléculas menores da subdivisão imediatamente superior. A aplicação de calor aumenta o tamanho das moléculas e também acelera e amplifica suas ondulações, de modo que elas cobrem um maior terreno, e o objeto como um todo se expande, até atingir o ponto onde as agregações de moléculas se rompem, e estas passam de uma condição para a imediatamente superior. Na matéria do mundo físico as sete subdivisões são representadas por sete graus de densidade da matéria, aos quais, partindo de baixo para cima, damos os nomes de sólido, líquido, gasoso, etérico, super-etérico, sub-atômico e atômico.
A subdivisão atômica é uma na qual todas as formas são construídas pela compressão dos átomos físicos em certas formas, sem qualquer reunião prévia destes átomos em blocos ou moléculas. Tipificando por ora o átomo físico ultérrimo como um tijolo, qualquer forma na subdivisão atômica seria feita pela reunião de alguns tijolos, e moldando-os em certa forma. A fim de fazer matéria para a subdivisão imediatamente inferior, um certo número de tijolos (átomos) primeiro seriam reunidos e cimentados em blocos menores de, digamos, quatro tijolos cada, cinco tijolos cada, seis ou sete tijolos; e então estes blocos assim feitos seriam usados como pedras para construção. Para a próxima subdivisão diversos blocos da segunda subdivisão cimentados juntos de certas maneiras formariam pedras de construção, e do mesmo modo até a mais inferior.
Para transferir qualquer substância da condição sólida para a líquida (isto é, para dissociá-la) aumentamos a vibração de suas moléculas componentes até que enfim sejam fragmentadas nas moléculas mais simples de que são constituídas. Este processo pode em todos os casos ser repetido de novo e de novo até que finalmente toda e qualquer substância pode ser reduzida aos átomos ultérrimos da mundo físico.
Cada um destes mundos tem seus habitantes, cujos sentidos são normalmente capazes de responder às ondulações apenas de seu próprio mundo. Um homem vivendo (como estamos fazendo) no mundo físico vê, ouve, sente, através de vibrações associadas à matéria física em seu redor. Ele igualmente é rodeado pelos mundos astral e mental e os outros mundos que estão interpenetrando seu próprio mundo mais denso, mas ele normalmente é inconsciente, porque seus sentidos não podem responder às vibrações de suas matérias, exatamente como nossos olhos físicos não podem ver pelas vibrações da luz ultravioleta, ainda que experimentos científicos demonstrem que elas existem, e há outras consciências com órgãos diversamente formados que podem vê-las. Um ser vivendo no mundo astral poderia estar ocupando exatamente o mesmo espaço de um ser vivendo no mundo físico, sendo cada um inteiramente inconsciente do outro e de modo algum impedindo o movimento livre do outro. O mesmo é verdade para todos os outros mundos. Estamos neste momento rodeados por estes mundos de matéria mais fina, tão próximos de nós quanto o mundo que podemos ver, e seus habitantes estão passando através de e em torno de nós, mas estamos inteiramente inconscientes deles.
Uma vez que a nossa evolução no presente está centrada sobre este globo a que chamamos Terra, só em relação a ela é que estamos falando deste mundos superiores, pois no futuro quando eu usar o termo "mundo astral" eu estarei querendo dizer a parte astral de nosso próprio globo somente, e não (como até aqui) a parte astral de todo o sistema solar. Esta parte astral de nosso próprio mundo também é um globo, mas de matéria astral. Ocupa o mesmo lugar que o globo que vemos, mas sua matéria (sendo muito mais diáfana) se estende no espaço em todas as direções mais do que o faz a atmosfera da Terra - muito mais além. Ele se estende até um pouco menos que a distância média até a Lua, de modo que mesmo que os dois globos, a Terra e a Lua, estejam afastados quase 240.000 milhas, os globos astrais destes dois corpos se tocam quando a Lua está no seu perigeu (o ponto de menor distância entre os dois corpos), mas não quando está em seu apogeu (o ponto de maior distância). Aplicarei o termo "mundo mental" ao globo ainda maior de matéria mental em meio ao qual nossa Terra existe. Quando chegamos aos globos ainda mais elevados temos esferas grandes o bastante para tocar as esferas correspondentes de outros planetas no sistema, ainda que sua matéria também esteja tão cerca de nós aqui na superfície da Terra sólida como aquela dos outros. Todos estes globos de matéria mais fina são partes de nós, e estão todos girando ao redor do Sol com suas partes visíveis. O estudante faria bem em acostumar-se a pensar em nossa Terra como o conjunto de sua massa de mundos interpenetrantes - não somente a comparativamente pequena bola física no centro dele.
Capítulo 4
A EVOLUÇÃO DA VIDA
Todos os impulsos de vida que eu descrevi como construindo os mundos interpenetrantes veio do Terceiro Aspecto da Deidade. Daí este Aspecto ser chamado no esquema Cristão "o Doador da Vida", o Espírito que pairava sobre a face das águas do espaço. Na literatura Teosófica estes impulsos são usualmente tomados como um conjunto, e chamado de Primeira Emanação.
Quando os mundo tiverem sido preparados até esta extensão, e a maioria dos elementos químicos já existir, a Segunda Emanação de vida tem lugar, e provêm do Segundo Aspecto da Deidade. Ela traz consigo o poder de combinação. Em todos os mundos é visto existir o que poderia ser pensado como os elementos correspondentes àqueles mundos. Ela prosseguiu na combinação daqueles elementos em organismos que então animou, e deste modo construiu os sete reinos da natureza. A Teosofia reconhece sete reinos, porque considera o homem como separado do reino animal, e leva em conta diversos estágios de evolução que são invisíveis pelo olho físico, e lhes dá a denominação medieval de "reinos elementais".
A Vida divina se derrama na matéria de cima para baixo, e seu curso completo pode ser imaginado tendo dois estágios - a gradual incorporação de matéria mais e mais densa, e então o gradual abandono de novo dos veículos que assumiu. O primeiro nível em que seus veículos podem ser cientificamente observados é o mental - o quinto contando do mais rarefeito para o mais grosseiro, o primeiro no qual há globos separados. No estudo prático é considerado conveniente dividir este mundo mental em duas partes, que chamamos superior e inferior de acordo com o grau de densidade de sua matéria. O superior consiste das três subdivisões mais finas de matéria mental; o inferior, das outras quatro.
Quando a Emanação atinge o mundo mental superior reúne os elementos etéricos de lá, combina-os no que naquele nível corresponde a substâncias, e destas substâncias constrói formas em que habita. A este chamamos de o primeiro reino elemental.
Depois de um longo período de evolução, através de diversas formas naquele nível, a onda de vida, que todo o tempo está pressionando constantemente para baixo, aprende a se identificar tanto com aquelas formas, em vez de ocupá-las e abandoná-las periodicamente, que é capaz de mantê-las permanentemente e fazê-las partes de si mesma, de modo que daquele nível pode proceder à temporária ocupação de formas em um nível mais baixo. Quando atinge este estágio a denominamos de segundo reino elemental, cuja vida animante reside nos níveis mentais superiores, enquanto que os veículos através de que se manifesta estão nos inferiores.
Após um outro vasto período de duração similar, é visto que a pressão descendente provocou a repetição deste processo; uma vez mais a vida identificou-se com suas formas, e fixou residência nos níveis mentais inferiores, de modo a ser capaz de animar corpos no mundo astral. Neste estágio nós a chamamos de terceiro reino elemental.
Falamos de todas estas formas como mais finas ou mais densas relativamente uma à outra, mas todas elas são quase infinitamente mais rarefeitas que qualquer uma a que estejamos acostumados no mundo físico. Cada um destes três é um reino da Natureza, tão variado em suas manifestações de suas diversas formas de vida como os reinos vegetal e animal que conhecemos. Depois de um longo período passado animando as formas do terceiro destes mundos elementais ela por sua vez se identifica com eles, e assim se torna capaz de animar a parte etérica do reino mineral, e se torna a vida que o vivifica - pois há uma vida no reino mineral tanto como há no vegetal ou animal, ainda que em condições onde não pode se manifestar tão livremente. No curso da evolução mineral a pressão descendente a faz identificar-se do mesmo jeito com a matéria etérica do mundo físico, e daquele animar a matéria mais densa dos minerais que são perceptíveis aos nossos sentidos.
No reino mineral incluímos não só o que usualmente chamamos de minérios, mas também os líquidos, gases e muitas substâncias etéricas que são desconhecidas da ciência ocidental. Toda a matéria da qual sabemos alguma coisa é matéria viva, e a vida que contém está sempre evoluindo. Quando atinge o ponto central do estágio mineral a pressão descendente cessa, e é substituída por uma tendência ascensional; a exteriorização terá cessado e a interiorização, começado.
Quando a evolução mineral é completada, a Vida terá se retirado novamente para o mundo astral, mas armazenando em si todos os resultados obtidos através de suas experiências no físico. Neste estágio ela anima formas vegetais, e começa a mostrar-se muito mais claramente como o que comumente chamamos de vida - vida vegetal de todos os tipos; e num estágio ainda ulterior de seu desenvolvimento deixa o reino vegetal e anima o reino animal. O atingimento deste nível é o sinal de que já terá se retirado ainda mais, e agora está atuando a partir do mundo mental inferior. A fim de trabalhar na matéria física a partir daquele mundo mental ela deve atuar através de matéria astral intermediária; e aquela matéria astral agora já não é mais parte da vestimenta da alma-grupo como um todo, mas é o corpo astral individual do animal em questão, como mais adiante explicaremos.
Em cada um destes reinos ela não só passa um período de tempo que para nossa concepção é quase inacreditavelmente longo, mas também percorre um curso definido de evolução, começando das manifestações inferiores daquele reino e terminando com as superiores. No reino vegetal, por exemplo, a força-vida poderia iniciar sua trajetória ocupando gramíneas ou musgos e terminar animando magníficas árvores de floresta. No reino animal poderia começar com os mosquitos ou animálculos, e encerrar com as mais refinadas espécies de mamíferos.
O processo todo é de constante evolução de formas inferiores para as superiores, das mais simples para as mais complexas. Mas o que está evoluindo não é prioritariamente a forma, mas a vida interna. As formas também evoluem e tornam-se melhores à medida que o tempo transcorre; mas é para que possam ser veículos apropriados para ondas de vida mais e mais avançadas. Quando a vida atinge o mais alto nível possível no reino animal, então pode passar para o reino humano, sob condições tais como as que logo explicaremos.
A Emanação deixa um reino e passa para outro, de modo que se tivéssemos que lidar com apenas uma única onda desta Emanação só poderíamos ter em existência um reino de cada vez. Mas a Deidade envia uma constante sucessão destas ondas, de modo que a qualquer momento dado encontramos diversas delas simultaneamente em operação. Nós próprios representamos uma destas ondas; mas encontramos evoluindo ao nosso lado uma outra onda que anima o reino animal - uma onda que procedeu da Deidade um estágio depois do que o fizemos. Encontramos ainda o reino vegetal, que representa uma terceira onda, e o reino mineral, que representa uma quarta; e os ocultista sabem da existência à nossa volta de três reinos elementais, que representam a quinta, sexta e sétima ondas. Todas estas, entretanto, são influxos sucessivos da mesma grande Emanação do Segundo Aspecto da Deidade.
Temos aqui, então, um esquema de evolução no qual a Vida divina se envolve mais e mais fundamente na matéria, a fim de que através dessa matéria possa receber vibrações que doutro modo não a afetariam - impactos externos, que por etapas despertam nela padrões de ondulação correspondentes aos seus, de modo que ela aprende a responder-lhes. Mais tarde ali aprende a gerar por si mesma estes padrões de ondulação, e assim se torna um ser possuído de poderes espirituais.
Podemos presumir que quando esta Emanação de vida originalmente saiu da Deidade, em algum nível além de nosso poder de cognição, talvez tenha sido homogênea; mas quando primeiro chega à percepção prática, quando está no mundo intuicional, mas apenas animando corpos feitos de matéria do mundo mental superior, já não é uma só gigantesca alma-mundial, mas muitas almas, Suponhamos uma Emanação homogênea, que pode ser considerada como uma única imensa alma, numa extremidade da escala; noutra, quando é atingida a humanidade, temos que aquela única alma vasta partiu-se em milhões das comparativamente pequenas almas dos homens individuais. Em qualquer estágio entre estes dois extremos encontramos uma condição intermédia, a imensa alma-mundial já subdividida, mas não até o mais extremo limite possível de subdivisão.
Cada homem é uma alma, mas não cada animal ou cada planta. O homem, como uma alma, pode se manifestar somente através de um corpo de cada vez no mundo físico, ao passo que uma alma animal se manifesta simultaneamente através de uma quantidade de corpos animais, uma alma vegetal através de uma quantidade de plantas separadas. Um leão, por exemplo, não é uma entidade permanentemente separada do mesmo modo que um homem o é. Quando um homem morre - isto é, quando ele enquanto alma deixa de lado seu corpo físico - permanece exatamente como era antes, uma entidade separada de todas as outras entidades. Quando o leão morre, aquilo que tinha sido sua alma separada é devolvido à massa de onde veio - uma massa que ao mesmo tempo está provendo as almas para muitos outros leões. Para tal massa damos o nome de "alma-grupo".
A uma alma-grupo como esta está associado um considerável número de corpos leoninos - digamos uma centena. Cada um destes corpos enquanto vive tem sua centésima parte da alma-grupo ligada a ele, e durante este tempo aparenta ser de todo separado, de maneira que o leão durante sua vida física é tão um indivíduo quanto o homem; mas não é um indivíduo permanente. Quando ele morre a sua alma reflui para a alma-grupo a que pertence, e aquela mesma alma leonina não pode ser separada novamente do grupo.
Uma analogia útil pode ajudar na compreensão. Imagine a alma-grupo sendo representada pela água dentro de um balde, e a centena de corpos de leões por cem copos. Quando cada copo é mergulhado no balde retira uma medida de água (a alma separada). Aquela água durante o período assume a forma do veículo que preenche, e é temporariamente separada da égua que permanece no balde, e da água nos outros copos.
Agora coloque-se em cada um dos cem copos alguma espécie de corante ou alguma espécie de aromatizante. Isto representaria as qualidades desenvolvidas pelas suas experiências na alma separada do leão durante sua vida. Devolva a água do copo para o balde; isso representa a morte do leão. A matéria corante ou aromatizante será disseminada por toda a água no balde, mas dará uma coloração muito mais tênue, um odor muito menos pronunciado quando assim distribuída do que quando estava confinada a um só copo. As qualidades desenvolvidas pela experiência de um leão ligado àquela alma-grupo são destarte compartilhadas por toda a alma-gupo, mas em grau muito menor.
Podemos tirar outro copo de água daquele balde, mas jamais poderemos obter a mesmíssima água depois de ela ter-se misturado à restante. Cada copo de água retirado daquele balde no futuro conterá alguns traços do corante ou aromatizante posto em cada copo cujo conteúdo tiver retornado ao balde. Assim as qualidades desenvolvidas pela experiência de um único leão se tornarão propriedade comum de todos os leões que futuramente nascerem daquela alma-grupo, ainda que em grau menor do que existiam naquele leão individual que as desenvolveu.
Esta é a explicação para os instintos herdados; este é o porquê de um patinho chocado por uma galinha correr instantaneamente para a água sem precisar que lhe mostrem como nadar; o porquê de um pinto esconder-se à visão da sombra de uma águia mal sai do ovo; o porquê de um pássaro que foi artificialmente criado, e jamais viu um ninho, não obstante sabe como fazer um, e o faz de acordo com as tradições de sua espécie.
Mais abaixo na escala da vida animal enormes números de corpos são associados a uma única alma-grupo - incontáveis milhões, por exemplo, no caso de alguns dos insetos menores; mas à medida que subimos no reino animal o número de corpos associados a uma só alma-grupo se torna cada vez menor, e portanto as diferenças entre os indivíduos se tornam maiores.
Assim as almas-grupo gradualmente se fragmentam. Retornando ao símbolo do balde, à medida que copo após copo d'água é retirado dele, colorido com algum tipo de substância corante e a ele devolvido, toda a água do balde gradualmente se torna mais rica em cor. Suponha que por estágios imperceptíveis algum tipo de película vertical se forme através do centro do balde, e gradualmente se solidifique numa divisão, de modo que agora tenhamos uma metade direita e uma esquerda no balde, e cada copo de água que fosse retirado fosse devolvido sempre para a mesma metade de onde foi retirado.
Então logo uma diferença se estabelecerá, e o líquido em uma das metades do balde já não será o mesmo que o da outra metade. Teríamos então praticamente dois baldes, e quando este estágio é atingido numa alma-grupo ela se divide em duas, como uma célula se separa por fissão. Desta forma, à medida que a experiência se enriquece sempre mais, as almas-grupo se tornam menores mas mais numerosas, até que no ponto mais alto chegamos ao homem com sua alma individual, que já não mais retorna a um grupo mas sempre permanece separado.
Uma das ondas de vida está vivificando todo um reino; mas nem todas as almas-grupo naquela onda de vida passarão por todo aquele reino desde baixo até em cima. Se no reino vegetal uma certa alma-grupo tiver animado árvores florestais, quando passar para o reino animal omitirá todos os estágios inferiores - isto é, jamais habitará insetos ou répteis, mas começará logo no nível dos mamíferos inferiores. Os insetos e répteis serão vivificados por almas-grupo que por algumas razões deixaram o reino vegetal num nível muito mais baixo do que a árvore de floresta. Da mesma maneira a alma-grupo que tiver atingido os níveis mais altos do reino animal, não se individualizará em selvagens primitivos mas em homens de um tipo algo superior, os selvagens primitivos sendo recrutados de almas-grupo que deixaram o reino animal em um nível inferior.
Almas-grupo em qualquer nível ou em todos os níveis se distribuem em sete grandes tipos, de acordo com o Ministro da Deidade através de cuja vida emanaram. Estes tipos são claramente distinguíveis em todos os reinos, e as sucessivas formas assumidas por cada um deles constituem séries interligadas, de modo que animais, vegetais, e as variedades das criaturas elementais podem ser arranjadas todas dentro de sete grandes linhas, e a vida percorrendo uma destas linhas não se desviará para nenhuma das outras.
Nenhuma classificação detalhada já foi feita sobre os animais, plantas ou minerais a partir deste ponto de vista; mas é certo que a vida que é encontrada animando um mineral de um tipo especial jamais vivificará qualquer outro tipo além do seu mesmo, ainda que naquele tipo possa variar. Quando passa para os reinos vegetal e animal habitará vegetais e animais daquele tipo e não de outro, e quando eventualmente atingir a humanidade se individualizará em homens daquele tipo e não de outro.
O método de individualização é a elevação da alma de um animal particular a um nível muito mais alto do que o atingido por sua alma-grupo de modo que já não pode mais voltar a ele mais tarde. Isso não pode ser feito com qualquer animal, mas só com aqueles cujo cérebro estiver desenvolvido até certo nível, e o método usualmente adotado para adquirir tal desenvolvimento mental é trazer o animal a um contato estreito com o homem. A individualização, portanto, é possível somente para animais domésticos, e mesmo assim só para certos tipos deles. À testa de cada um dos sete tipos fica uma espécie de animal doméstico - o cachorro em um, o gato em outro, o elefante num terceiro, o macaco num quarto, e assim por diante. Os animais selvagens podem todos ser distribuídos em sete linhas que conduzem aos animais domésticos; por exemplo, a raposa e o lobo obviamente estão na mesma linha do cachorro, enquanto o leão, o tigre e o leopardo igualmente óbvio conduzem ao gato doméstico; de modo que a alma-grupo animando a centena de leões mencionados antes poderia em um estágio posterior de evolução ser dividida em, digamos, cinco almas-grupo, cada qual animando vinte gatos.
A onda de vida passa um longo período em cada reino; estamos agora recém passando da metade de um destes eons, e conseqüentemente as condições não são favoráveis para aquisição daquela individualização que normalmente ocorre só no final de um período. Raros casos de tal aquisição podem ocasionalmente ser observados em alguns animais muito mais avançados que a média. A associação íntima com o homem é necessária para produzir este resultado. Se o animal é bondosamente tratado desenvolve devotada afeição por seu amigo humano, e também desenvolve seus poderes intelectuais ao tentar entender aquele amigo e antecipar seus desejos. Somando-se a isto, as emoções e os pensamentos do homem constantemente agem sobre os do animal, e tendem a elevá-lo a um nível mais alto tanto emocionalmente como intelectualmente. Sob condições favoráveis este desenvolvimento pode ir tão longe a ponto de alçar o animal pondo-o fora de contato com o grupo a que pertence, de modo que seu fragmento de alma-grupo se torna capaz de responder à Emanação que provém do Primeiro Aspecto da Deidade.
Pois esta Emanação final não é como as outras, uma poderosa torrente afetando milhares ou milhões simultaneamente; vem para cada um individualmente assim que ele estiver pronto para recebê-la. Esta Emanação já terá descido até o mundo intuicional; mas não procede mais além disso até que este ímpeto ascendente seja feito pela alma do animal de baixo para cima; mas quando isso acontece esta Terceira Emanação desce para encontrá-lo, e no mundo mental superior é formado um Ego, uma individualidade permanente - permanente, ou seja, até que, muito mais adiante em sua evolução, o homem o transcenda e retorne à divina unidade de onde veio. Para formar este Ego, o fragmento de alma-grupo (que até então desempenhou sua parte sempre como força animante) se torna por sua vez um veículo, e é ele próprio animado por aquela divina Centelha que desceu nele do alto. Pode ser dito que aquela Centelha esteve pairando no mundo monádico sobre a alma-grupo durante toda sua prévia evolução, incapaz de efetuar a junção com ela até que seu correspondente fragmento na alma-grupo tivesse se desenvolvido o suficiente para permiti-lo. É esta separação do restante da alma-grupo e a formação de um Ego separado que marca a distinção entre os animais superiores e os homens inferiores.
Capítulo 5
A CONSTITUIÇÄO DO HOMEM
O homem é portanto em essência uma Centelha do Fogo divino, pertencendo ao plano monádico. [A Presidente resolveu estabelecer agora um conjunto de nomes para os planos, de modo que no futuro estes serão usados em vez dos outro previamente empregados. Uma tabela deles é dada abaixo como referência.
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Novos Nomes | Antigos Nomes |
1. Mundo Divino | Plano Âdi |
2. Mundo Monádico | Plano Anupâdaka |
3. Mundo Espiritual | Plano Âtmico ou Nirvânico |
4. Mundo Intuicional | Plano Búdico |
5. Mundo Mental | Plano Mental |
6. Mundo Emocional ou Astral | Plano Astral |
7. Mundo Físico | Plano Físico |
Estes substituirão os nomes dados no Vol. II de A Vida Interna..]
Para aquela Centelha, residindo todo tempo naquele mundo, damos o nome de “Mônada”. Para os propósitos da evolução humana a Mônada se manifesta nos mundos inferiores. Quando ela desce um estágio e entra no mundo espiritual, se mostra lá como o tríplice Espírito, possuindo três aspectos (exatamente como nos mundos infinitamente superiores a Deidade tem Seus Três Aspectos). Destes três - um permanece sempre naquele mundo, e o chamamos de Espírito no homem. O segundo aspecto se manifesta no mundo intuicional, e falamos dele como sendo a Intuição no homem. O terceiro se mostra no mundo mental superior, e o chamamos de Inteligência no homem. Estes três aspectos tomados juntos constituem o Ego que anima o fragmento saído da alma-grupo. Assim o homem como o conhecemos, mesmo que na verdade seja uma Mônada residindo no mundo monádico, mostra-se como um Ego no mundo mental superior, manifestando estes três aspectos de si mesma (Espírito, Intuição e Inteligência) através daquele veículo de matéria mental superior a que chamamos de corpo causal.
Este Ego é o homem durante o estágio humano de evolução; ele é a correspondência mais próxima, de fato, da concepção anti-científica comum sobre a Alma. Ele vive inalterado (exceto por seu crescimento) desde o momento da individualização até que a humanidade seja transcendida e mergulhada na divindade. Ele não é jamais afetado pelo que chamamos nascimento e morte; o que costumeiramente consideramos como sendo sua vida é só um dia de sua vida. O corpo que podemos ver, o corpo que nasce e morre, é uma roupa que ele veste para os propósitos de certa parte de sua evolução.
Tampouco este é o único corpo que ele assume. Antes que ele, o Ego no mundo mental superior, possa tomar um veículo pertencente ao mundo físico, deve fazer uma conexão com ele através dos mundos mental inferior e astral. Quando deseja descer ele reúne em torno de si um véu de matéria do mundo mental inferior, a que chamamos seu corpo mental. Este é o instrumento pelo qual pensa todos os seus pensamentos concretos – o pensamento abstrato sendo um poder do próprio Ego no mundo mental superior.
A seguir ele junta em seu redor um véu de matéria astral, a que chamamos seu corpo astral; e este é o instrumento de suas paixões e emoções, e ainda (em conjunção com a parte inferior de seu corpo mental) o instrumento de todos os pensamentos que são tingidos por egoísmo e sentimento pessoal. Somente depois de assumir estes veículos intermediários ele pode entrar em contato com o corpo físico de um bebê, e nascer no mundo que conhecemos. Ele vive através do que chamamos sua vida, adquirindo certas qualidades como resultado de suas experiências; e ao seu término, quando o corpo físico é abandonado, ele reverte o processo de descida e abandona um por um os veículos temporários que assumiu. O primeiro a ir-se é o corpo físico, e quando este é descartado, sua vida é centrada no mundo astral e ele vive em seu corpo astral.
A duração de sua estada naquele mundo depende da quantidade de paixão e emoção que ele desenvolveu em si nesta vida física. Se houver muito delas, o corpo astral é fortemente vitalizado, e persistirá por longo tempo; se houver pouco, o corpo astral tem menos vitalidade, e ele logo será capaz de por sua vez deixá-lo de lado. Quando isto é feito, ele se encontra vivendo em seu corpo mental. A sua força depende da natureza dos pensamentos aos quais se habituou, e usualmente sua estada neste nível é extensa. Então ela chega a um fim, e ele depõe por sua vez o corpo mental, e novamente o Ego está em seu próprio mundo.
Devido à falta de desenvolvimento, ele ainda está só parcialmente cônscio naquele mundo; as vibrações de sua matéria são rápidas demais para fazer qualquer impressão sobre ele, assim como os raios ultravioletas são rápidos demais para fazer qualquer impressão sobre nossos olhos. Depois de um repouso lá, ele sente o desejo de descer até um nível onde as ondulações lhe sejam perceptíveis, a fim de que possa sentir-se plenamente vivo; assim ele repete o processo de descida para dentro da matéria mais densa, e assume de novo um corpo mental, um astral e um físico. Como seus corpos anteriores já terão todos se desintegrado, cada um em seu tempo, estes novos veículos são inteiramente distintos dos outros, e assim ocorre que em sua vida física ele não tem qualquer lembrança das outras vidas semelhantes que a precederam.
Quando atua neste mundo físico ele lembra através de seu corpo mental; mas uma vez que há um novo, assumido só depois deste nascimento, naturalmente ele não pode conter nenhuma memória de nascimentos anteriores nos quais não teve parte alguma. O próprio homem, o Ego, relembra sim todos eles quando está em seu próprio mundo, e ocasionalmente uma recordação parcial ou influência deles se infiltra através de seus veículos inferiores. Usualmente ele não lembra, em sua vida física, das experiências de vidas pregressas, mas de fato manifesta na vida física as qualidades que aquelas experiências desenvolveram nele. Cada homem é portanto exatamente o que fez de si durante aquelas vidas passadas; se nelas ele tiver desenvolvido boas qualidades em si mesmo, ele agora as possui; se negligenciou em treinar-se, e conseqüentemente permitiu-se à fraqueza e má disposição, ele se encontrará precisamente nestas condições agora. As qualidades, boas ou más, com que nasce são aquelas que tiver construído para si mesmo.
Este desenvolvimento do Ego é o objetivo de todo o processo de materialização; ele assume aqueles véus de matéria precisamente porque através deles ele está apto para receber vibrações às quais pode responder, de modo que suas faculdades latentes possam ser assim desdobradas. Mesmo que o homem desça do alto para estes mundos inferiores, é só através desta descida que um pleno conhecimento dos mundos superiores se desenvolve nele. A consciência plena em qualquer dos mundos envolve o poder de perceber e responder a todas as vibrações daquele mundo; portanto o homem comum não tem ainda consciência perfeita em nenhum nível – nem mesmo em seu mundo físico que ele julga conhecer. É possível para ele desenvolver sua percepção em todos esses mundos, e é por meio desta consciência desenvolvida que observamos todos estes fatos que ora descrevo.
O corpo causal é o veículo permanente do Ego no mundo mental superior. Consiste de matéria da primeira, segunda e terceira subdivisões daquele mundo. Em pessoas comuns ele ainda não é totalmente ativo, sendo vivificada só a matéria que pertence à terceira subdivisão. À medida que o Ego desdobra suas potencialidades latentes através do longo curso de sua evolução, a matéria superior é gradualmente trazida à atividade, mas é só no homem aperfeiçoado a quem chamamos de Adepto que ela está desenvolvida até sua extensão máxima. Tal matéria pode ser distinguida pela visão clarividente, mas apenas por um vidente que saiba como usar a visão do Ego.
É difícil descrever um corpo causal completamente, porque os sentidos pertencentes a seu mundo são todos diferentes e mais elevados do que os nossos neste nível. A lembrança da aparência de um corpo causal como é possível a um clarividente trazê-la a seu cérebro físico é a imagem de um ovóide, que envolve o corpo físico do homem, estendendo-se até uma distância de cerca de quarenta e cinco centímetros a partir da superfície normal daquele corpo. No caso de um homem primitivo ele se assemelha a uma bolha, e dá a impressão de ser vazio. Na realidade é preenchido de matéria mental superior, mas como ainda não foi chamada à atividade permanece incolor e transparente. Com a continuidade do progresso gradualmente é posto em alerta pelas vibrações que lhe chegam dos corpos inferiores. Isso advém só lentamente, porque as atividades do homem nos primeiros estágios de sua evolução não têm um caráter que encontre expressão em matéria tão fina como a do corpo mental superior; mas quando um homem atinge o estágio onde ele é capaz de pensamento abstrato ou emoção altruísta a matéria do corpo causal é despertada em resposta.
Quando estes padrões ondulatórios são despertados nele mostram-se em seu corpo causal como cores, de modo que em vez de ser uma mera bolha transparente pouco a pouco se torna uma esfera cheia de matéria das mais adoráveis e delicadas tonalidades – um objeto cuja formosura está além de toda concepção. É comprovado pela experiência que estas cores têm um significado. A vibração que denota o poder de emoção altruísta se mostra como um rosa pálido; a que indica alto poder intelectual é amarela; a que expressa simpatia é verde, enquanto que o azul indica sentimento devocional, e um luminoso azul violáceo caracteriza a espiritualidade superior. O mesmo esquema de significados cromáticos se aplica aos corpos que são construídos de matéria mais densa, mas à medida que nos aproximamos do mundo físico os tons em cada caso são comparativamente mais grosseiros – não só menos delicados mas também menos vívidos.
No decurso da evolução nos mundos inferiores o homem freqüentemente introduz em seus veículos qualidades que são indesejáveis e inteiramente inadequadas para sua vida como Ego – tais como, por exemplo, o orgulho, a irritabilidade, a sensualidade. Esta, como o resto, são redutíveis a vibrações, mas são em todos os casos vibrações das subdivisões inferiores de seus respectivos mundos, e portanto não podem se reproduzir no corpo causal, que é construído exclusivamente de matéria das três subdivisões superiores de seu mundo. Pois cada seção do corpo astral atua fortemente sobre a seção correspondente do corpo mental, mas apenas sobre a seção correspondente; não pode influenciar nenhuma outra parte. Assim o corpo causal pode ser afetado só pelas três porções superiores do corpo astral; e as oscilações destas representam só boas qualidades.
O efeito prático disso é que o homem não pode construir no Ego (isto é, em seu Eu real) nada senão boas qualidades; as más qualidades que ele desenvolve são por natureza transitórias e devem ser descartadas à medida em que avança, porque ele já não tem em si matéria que as possa expressar. A diferença entre os corpos causais do selvagem e do santo é que no primeiro é vazio e incolor, e no segundo é cheio de matizes brilhantes e fulgurantes. Quando o homem passa para além mesmo da santidade e se transforma em um grande poder espiritual, seu corpo causal aumenta em tamanho, porque tem muito mais a expressar, e também começa a irradiar de si em todas as direções poderosos raios de luz viva. Em alguém que já tenha obtido o Adeptado este corpo é de enormes dimensões.
O corpo mental é construído de matéria das quatro subdivisões inferiores do mundo mental, e se expressa os pensamentos concretos do homem. Aqui também encontramos o mesmo esquema de cores que no corpo causal. Os tons são algo menos delicados, e percebemos um ou dois acréscimos. Por exemplo, um pensamento de orgulho se mostra como laranja, enquanto a irritabilidade é manifesta por um escarlate brilhante. Podemos ver aqui o marrom brilhante da avareza, o marrom acinzentado do egoísmo, e o verde acinzentado da falsidade. Aqui também vemos a possibilidade de uma mistura de cores; a afeição, o intelecto, a devoção podem ser tingidos pelo egoísmo, e neste caso suas cores distintivas são mescladas ao marrom do egoísmo, de modo que temos uma aparência impura e opaca. Mesmo que suas partículas estejam sempre em movimento rápido entre si, este corpo tem ao mesmo tempo uma espécie de frouxa organização.
O tamanho e formato do corpo mental são determinados pelos do veículo causal. Há nele certas estrias que o dividem mais ou menos irregularmente em segmentos, cada um deles correspondendo a certo departamento do cérebro físico, de modo que cada tipo de pensamento deveria funcionar através de sua posição devidamente designada. O corpo mental ainda é tão imperfeitamente desenvolvido nos homens comuns que há muitos em quem um grande número de departamentos especiais ainda não está em atividade, e qualquer tentativa de pensamento pertencente a estes departamentos tem de percorrer algum canal inadequado que já esteja completamente aberto. O resultado é que aquele pensamento sobre estes assuntos é para a maioria das pessoas confuso e incompreensível. Este é o porquê de algumas pessoas terem cabeça para a matemática e outras serem incapazes de somar corretamente – é a causa pela qual algumas pessoas instintivamente entendem, valorizam e desfrutam da música, enquanto outras não distinguem uma melodia da outra.
Toda a matéria do corpo mental deveria estar circulando livremente, mas algumas vezes o homem permite que seu pensamento sobre certo assunto se fixe e solidifique, então a circulação é impedida, e há uma congestão que logo endurece numa espécie de calosidade no corpo mental. Tal calosidade se manifesta aqui em baixo para nós como um preconceito; e até que seja completamente reabsorvido e a circulação restaurada, é impossível para o homem pensar com verdade ou ver com clareza no que diz respeito àquele departamento particular de sua mente, pois a congestão impede a livre passagem das vibrações tanto para fora como para dentro.
Quando um homem utiliza qualquer parte de seu corpo mental ele não só vibra mais rapidamente no momento, mas ainda temporariamente se expande e cresce em tamanho. Se houver um pensar prolongado sobre algum assunto este aumento se torna permanente, e assim é possível para o homem aumentar o tamanho de seu corpo mental seja ao longo de linhas desejáveis ou indesejáveis.
Bons pensamentos produzem vibrações na matéria mais fina do corpo, os quais por gravidade específica tendem a flutuar na parte superior do ovóide; onde haja maus pensamentos, como egoísmo e avareza, há sempre oscilações na matéria mais grosseira, que tendem a gravitar em direção à parte mais baixa do ovóide. Conseqüentemente o homem comum, que se permite não raramente a pensamentos egoístas de vários tipos, usualmente expande a parte inferior de seu corpo mental, e apresenta mais ou menos a aparência de um ovo com sua parte mais larga para baixo. O homem que tiver reprimido estes pensamentos vis, e tiver se devotado aos superiores, tende a expandir a parte superior de seu corpo mental, e portanto apresentará a aparência de um ovo com sua parte mais larga para cima. De um estudo das cores e estrias do corpo mental de um homem o clarividente pode perceber o seu caráter e o progresso que tiver feito em sua vida atual. A partir de características semelhantes no corpo causal ele pode ver quais progressos o Ego fez desde sua formação original, quando o homem deixou o reino animal.
Quando um homem pensa em qualquer objeto concreto – um livro, uma casa, uma paisagem – ele constrói uma pequena imagem do objeto na matéria de seu corpo mental. Esta imagem flutua na parte superior daquele corpo, usualmente defronte à face do homem e perto do nível dos olhos. Lá permanece enquanto o homem estiver contemplando o objeto, e usualmente por um breve tempo depois, cuja duração depende da intensidade e da clareza do pensamento. Esta forma é muito objetiva, e pode ser vista por outra pessoa, se esta tiver desenvolvido a visão de seu próprio corpo mental. Se um homem pensa em outro, ele cria um pequeno retrato exatamente da mesma maneira. Se seu pensamento é meramente contemplativo e não envolve sentimento (como afeto ou antipatia) ou desejo (como o de ver tal pessoa) o pensamento usualmente não afeta perceptivelmente o homem em que pensa.
Se associado ao pensamento sobre a pessoa houver um sentimento, como por exemplo de afeição, um outro fenômeno ocorre além da formação da imagem. O pensamento de afeição assume uma forma definida, que é construída de matéria do corpo mental do pensador. Por causa da emoção envolvida, ele recolhe ao seu redor também matéria de seu corpo astral, e assim temos uma forma astro-mental que se desprende do corpo em que foi gerada, e se move pelo espaço em direção ao objeto do sentimento ou afeição. Se o pensamento é suficientemente forte, a distância não faz qualquer diferença; mas o pensamento de uma pessoa comum normalmente é fraco e difuso, e assim não tem efeito fora de uma área limitada.
Quando esta forma-pensamento alcança o seu objeto descarrega-se em seu corpo astral ou mental, comunicando-lhes sua própria freqüência de vibração. Pondo em outros termos, um pensamento de amor enviado de uma pessoa para outra envolve a verdadeira transferência de certa quantidade de força e de matéria do emissor ao receptor, e seu efeito sobre o receptor é o de despertar o sentimento de afeição nele, e leve mas permanentemente aumentando seu poder de amar. Mas um tal pensamento também reforça o poder de afeição no pensador, e portanto faz um bem simultaneamente para os dois.
Todo pensamento constrói uma forma; se o pensamento for dirigido para outra pessoa, viaja até ela; se for nitidamente egoísta permanece nas imediações do pensador; se não pertence a nenhuma destas categorias, flutua por um tempo no espaço e então se desintegra lentamente. Todo homem está portanto deixando atrás de si por onde quer que vá um rastro de formas-pensamento; andando pela rua estamos todos caminhando em meio a um mar de pensamentos alheios. Se um homem deixa sua mente em branco por alguns momentos, estes pensamentos residuais de outros mergulham nela, na maior parte dos casos deixando apenas reduzida impressão nela. Às vezes algum chega que atrai sua atenção, de modo que sua mente o incorpora e o torna seu, reforça-o pela adição de sua própria força, e então o despede novamente para afetar alguém mais. Um homem, portanto, não é responsável por um pensamento que flutue em sua mente, porque pode não ser seu, mas de outrem; mas ele é responsável se o incorpora, se se fixa nele e o emite reforçado.
Pensamentos auto-centrados de qualquer tipo pairam em torno do pensador, e a maioria dos homens cerca seus corpos mentais com uma concha de pensamentos assim. Uma concha assim obscurece a visão mental e facilita a formação de preconceitos.
Cada forma-pensamento é uma entidade temporária. Representa como se uma bateria carregada, esperando uma oportunidade de descarregar-se. Sua tendência é sempre reproduzir sua própria freqüência de vibração no corpo mental que a incorpora, e assim desperta nele um pensamento semelhante. Se a pessoa a quem é dirigido estiver por acaso ocupada ou já engajada em alguma seqüência definida de pensamento, as partículas de seu corpo mental já estarão vibrando em determinada freqüência, e de momento não podem ser afetadas de fora. Neste caso a forma-pensamento espera, pairando perto do seu objetivo até que ele esteja suficientemente repousado para permitir sua entrada; então descarrega-se nele, e com este ato deixa de existir.
O pensamento auto-centrado se comporta exatamente do mesmo modo a respeito de seu gerador, e descarrega-se sobre ele quando a oportunidade se oferece. Se for um mau pensamento, ele geralmente o considera como a sugestão de um demônio tentador, quando na verdade ele tenta a si mesmo. Usualmente cada pensamento definido cria uma forma-pensamento nova; mas se uma forma-pensamento da mesma natureza já estiver pairando em torno do pensador, sob certas circunstâncias um novo pensamento no mesmo assunto, em vez de criar uma nova forma, funde-se com a antiga e a reforça, de modo que uma longa ruminação sobre o mesmo assunto cria às vezes uma forma-pensamento de tremendo poder. Se o pensamento for mau, tal forma-pensamento pode tornar-se uma verdadeira influência maligna, perdurando talvez por muitos anos, e tendo durante algum tempo toda a aparência e poderes de uma entidade viva real.
Todos estes descritos são os pensamentos comuns não premeditados do homem. Um homem pode fazer uma forma-pensamento intencionalmente, e endereçá-la a outrem no intuito de ajudá-lo. Esta é uma das linhas de atividade adotadas por aqueles que desejam servir a humanidade. Uma constante corrente de poderoso pensamento dirigida com inteligência para outra pessoa pode ser da maior valia para ela. Uma forte forma-pensamento pode ser um verdadeiro anjo-da-guarda, e proteger seu objeto da impureza, da irritabilidade ou do medo.
Uma interessante ramificação deste assunto é o estudo das várias formas e cores assumidas pelas formas-pensamento de vários tipos. As cores indicam a natureza do pensamento, e estão de acordo com aquelas que já descrevemos como existentes nos corpos. As formas são duma variedade infinita, mas freqüentemente são de algum modo típicas da espécie de pensamento que expressam.
Cada pensamento de caráter definido, como um pensamento de afeição ou ódio, de devoção ou suspeita, de raiva ou medo, ou orgulho ou ciúme, não só cria uma forma mas igualmente irradia uma vibração. O fato de que cada um destes pensamentos é expresso por uma certa cor indica que o pensamento se expressa como uma oscilação da matéria de certa parte do corpo mental. Esta freqüência de oscilação se transmite para a matéria mental circundante precisamente do mesmo jeito que as vibrações de um sino se transmitem ao ar circundante.
Esta radiação se move em todas as direções, e onde quer que se imprima em outro corpo mental que esteja em uma atitude passiva ou receptiva, comunica a ele algo de sua própria vibração. Isso não veicula uma idéia completa definida, como o faz a forma-pensamento, mas tende a produzir um pensamento do mesmo caráter que o seu. Por exemplo, se o pensamento for devocional suas ondulações suscitarão devoção, mas o objeto da adoração pode ser diferente no caso de cada pessoa sobre cujo corpo mental incida. A forma-pensamento, de outra parte, pode atingir só uma pessoa, mas comunicará àquela pessoa (se receptiva) não só um sentimento genérico de devoção, mas também uma imagem precisa do Ser por quem a adoração foi originalmente sentida.
Qualquer pessoa que habitualmente pense pensamentos puros, bons e fortes está utilizando para este propósito a parte mais alta de seu corpo mental – uma parte que de modo algum é utilizada pelo homem comum, e está inteiramente subdesenvolvida nele. Este indivíduo é portanto um poder para o bem no mundo, e estará sendo de grande utilidade para todos em suas imediações que sejam capazes de algum tipo de resposta. Pois a vibração que ele irradia tende a despertar uma nova e mais alta porção de seus corpos mentais, e conseqüentemente abrindo-lhes também novos campos de pensamento.
Pode não ser exatamente o mesmo pensamento que foi enviado, mas será da mesma natureza. As ondulações geradas por um homem pensando sobre Teosofia não necessariamente veiculam idéias Teosóficas a todos em seu redor; mas eles realmente despertam neles pensamentos mais liberais e mais elevados do que aqueles a que antes estavam acostumados. Por outro lado, as formas-pensamento geradas sob tais circunstâncias, ainda que mais limitadas em sua ação do que a irradiação, são também mais precisas; elas podem afetar somente aqueles que nalguma extensão estão abertos a elas, mas para estes veicularão idéias Teosóficas definidas.
As cores do corpo astral comportam os mesmos significados daquelas dos veículos superiores, mas existem diversas oitavas de cor abaixo delas, e muito mais de perto se aproximam dos tons que vemos no mundo físico. Ele é o veículo da paixão e da emoção, e conseqüentemente pode exibir cores adicionais, expressando os sentimentos menos desejáveis do homem, que não podem se mostrar em níveis mais altos; por exemplo, um marrom avermelhado fosco indica a presença de sensualidade, enquanto nuvens negras demonstram malícia e ódio. Um curioso cinza lívido denuncia a presença de medo, e um cinza muito escuro, normalmente disposto em pesados anéis em torno do ovóide, indica uma condição de depressão. A irritabilidade é mostrada pela presença de uma quantidade de pequenas manchas escarlates no corpo astral, cada uma representando um pequeno impulso de raiva. A inveja é mostrada por um peculiar verde amarronzado, geralmente semeado com as mesmas nódoas escarlates. O corpo astral tem o tamanho e forma como os já descritos, e no homem comum seu contorno é claramente delineado; mas no caso do homem primitivo ele é amiúde excessivamente irregular, e se assemelha a uma nuvem rodopiante composta das cores mais desagradáveis.