27.1.11

[ ] Perispírito, na visão kardecista

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"O perispírito" - escreve Kardec em O livro dos médiuns, item n° 109 ¨"como se vê, é o princípio de todas as manifestações."

O leitor desprevenido que se inicia no estudo da Codificação poderia perguntar-se: Todas? Saiba ele que é em todas mesmo. Kardec só produz tais afirmativas depois de haver testado escrupulosamente seus pontos de apoio e suas possíveis objeções. É, realmente, o perispírito o componente indispensável à produção de qualquer fenômeno psíquico, seja ele anímico ou mediúnico.

Com a mesma convicção, afirmou em Obras póstumas, no capítulo Manifestação dos espíritos, itens 10 e 11:

"O perispírito serve de intermediário ao espírito e ao corpo. É o órgão de transmissão de todas as sensações. Relativamente às que vêm do exterior pode-se dizer que o corpo recebe a impressão, o perispírito a transmite e o espírito, que é o ser sensível e inteligente, a recebe. Quando o ato é de iniciativa do espírito, pode se dizer que o espírito quer, o perispirito transmite e o corpo executa". (Kardec. Allan. 1978).

Seja, portanto, acoplando seu perispírito ao do encarnado, seja tomando a este as energias de que necessita, o espírito desencarnado precisa recorrer ao perispírito de pessoas com faculdades mediúnicas para produzir os fenômenos que deseja e estão ao seu alcance promover. Isso porque ele não dispõe de corpo físico para movimentar um objeto, escrever um texto, manifestar-se oralmente ou pintar um quadro. Só poderá fazê-lo tomando o corpo de alguém emprestado, corpo este que somente pode ser movimentado para realizar a tarefa desejada quando uma vontade espiritual quer, e o perispírito transmite esse comando ao corpo físico que, então, fala, escreve, movimenta-se, enfim.

Prossigamos, porém.

O perispírito não se acha encerrado nos limites do corpo, como numa caixa. Pela sua natureza fluídica, ele é expansível, irradia para o exterior e forma, em torno do corpo, uma espécie de atmosfera que o pensamento e a força da vontade podem dilatar mais ou menos. Daí se segue que pessoas há que, sem estarem em contato corporal, podem achar-se em contato pelos seus perispíritos e permutar a seu mau grado impressões e, algumas vezes, pensamentos, por meio da intuição. (Idem).

Essa borda perispiritual que "se irradia para o exterior e forma, em torno do corpo, uma espécie de atmosfera" é a AURA, que André Luiz conceitua da seguinte maneira em Evolução em dois Mundos:

"A aura é, portanto, a nossa plataforma onipresente em toda comunicações com as rotas alheias, antecâmara do espírito em todas as nossas atividades intercâmbio com a vida que nos rodeia, através da qual somos vistos e examinados pelas inteligências superiores, sentidos e reconhecidos pelos nossos afins e temidos e hostilizados ou amados e auxiliados pelos irmãos que caminham em posição inferior à nossa". (Xavier, Francisco Cândido/luiz. André. 1973.)

Não é preciso dizer mais para configurar a importância da aura no humano. É o nosso passaporte, o nosso documento de identidade, a radioscopia da nossa intimidade física e espiritual para aqueles que têm os olhos de ver de que nos falou Jesus.

O tema tem suscitado o interesse de inúmeros estudiosos, tanto do ponto de vista do antigo ocultismo até dos modernos pesquisadores apoiados em dispositivos eletrônicos altamente sofisticados.

É digno de nota o fato de que, abstraídas algumas fantasias especulativas, originárias de imaginações descontroladas, há uma espécie de consenso em torno das principais características da aura. Vejamos, por exemplo, o que diz Paracelso, em citação que colhemos em Lewis Spence, na obra An Encyclopaedia of Occultismo.

"A força vital não fica encerrada dentro do ser humano, mas em torno dele como uma esfera luminosa e pode atuar à distância. Nesses raios semi-naturais, a imaginação da pessoa pode produzir efeitos sadios ou mórbidos. Pode envenenar a essência da vida e causar doenças ou purificar a que impura e restaurar a saúde. (Spence. Lewis. 1960.)

E mais adiante:

"Nossos pensamentos são, simplesmente, emanações magnéticas que, ao escapar de nosso cérebro, penetram em diversas cabeças e levam consigo, juntamente com um reflexo de nossa vida, a imagem de nossos segredos". (Idem).

O pioneiro no estudo científico da aura foi o dr. Walter J. Kilner, médico inglês nascido em 1847, em plena Inglaterra vitoriana, numa família tradicionalmente dedicada à medicina. Seu pai, John, foi membro do sisudo Royal College of Surgeons e seu irmão, Charles Scott Kilner, também médico de prestígio e competência.

Dr. Walter Kilner pesquisou a aura humana durante uma boa parte de sua vida profissional. Familiarizado com estudos de Rontgen e Blondot, bem como de Reichenbach e outros, Kilner teve a idéia, aí por volta de 1908, de que a aura humana poderia se tornar visível mediante o uso de um filtro colorido apropriado. Suas experiências, nesse sentido, levaram-no ao emprego da dicianina, um corante extraído do alcatrão. A substância tem a propriedade de produzir certo grau de miopia que, por sua vez, leva o observador a perceber mais facilmente a radiação da faixa ultra-violeta.

Em 1911, o dr. Kilner encontrou-se em condições de duplicar suas observações e conclusões num livro intitulado The Human Atmosphere, que era acompanhado de algum material de pesquisa, inclusive óculos especiais para a dicianina.

Esse livro provocou inevitável celeuma entre seus colegas médicos, que não lhe pouparam estocadas irônicas de olímpico desapreço, tais como esta, publicada, em longo artigo crítico, em The British Medical Jornal, de 6 de janeiro de 1912:

"O dr. Kilner não conseguiu convencer-nos de que sua aura seja mais autêntica do que a visionária adaga de Macbeth."

Com a Primeira Grande Guerra, a dicianina, produzida em laboratórios alemães, desapareceu do mercado e o dr. Kilner teve de interromper suas pesquisas. Em 1920, saiu nova edição aumentada do seu livro, desta vez recebido com maior respeito e endossado por alguns médicos de prestígio, mas o dr. Kilner nem chegou a ver 'em vida', os artigos mais compreensíveis do The Medical Times e do The Scintific American, pois morreu em 23 de junho de 1920, aos setenta e três anos de idade.

Seja como for, seu magnífico trabalho ficou situado como que numa área crepuscular, entre a ciência e o chamado 'ocultismo', pela maioria de seus colegas de profissão e céticos de outros matizes e profissões. Não faltou quem o acusasse de envolvimento com o famigerado ocultismo e até o considerasse um clarividente, suposições que ele contestou explicitamente. Qualquer que seja a razão, contudo, seu trabalho não despertou maior interesse na classe médica e coube a um espiritualista convicto e dinâmico, Harry Boddington - ao qual temos recorrido freqüentemente neste livro para dar continuidade aos estudos de Kilner, mesmo sem contar com a formação universitária de seu predecessor.

Boddington projetou uns óculos especiais que em muito facilitaram o estudo da aura.

O livro do dr. Walter Kilner não ficou esquecido, especialmente nos meios espíritas ingleses, nos quais sempre foi citado, mas permaneceu esgotado durante cerca de meio século. Em 1977, de passagem por Londres, encontrei uma nova edição, lançada no ano anterior. É a que tenho em meu poder, não mais com o antigo título, mas como The Human Aura, edição da Citadel Press (Secaucus, New Jersey. Estados Unidos. 1976).

A técnica de pesqüisa é minuciosamente descrita pelo dr. Kilner e ilustrada com sessenta e quatro desenhos a traço, colhida entre as inúmeras observações que realizou em outras tantas pessoas.

Seria impraticável resumir, em poucas linhas ou mesmo numas tantas páginas, o paciente trabalho do eminente médico. Suas observações clínicas são expostas com clareza e segurança. Tomemos três exemplos:

"Modificações na forma e tamanho da aura resultam de severas doenças nervosas, como epilepsia, histeria, hemiplegia e, uma vez estabelecidas, torna-se permanentes, ao passo que se forem devidas a distúrbios nervosos transitórios, como ciática, herpes etc, uma vez curado o paciente, a aura gradualmente retoma sua condição normal.

( ... ) Todo e qualquer dano às faculdades mentais causa automática redução da aura, em tamanho e nitidez, sendo que ela é também mais estreita nas pessoas de mente débil. Tais fatos dão apoio à observação de que os mais sofisticados centros cerebrais estão intimamente interessados na geração de energia áurica.

Quando o paciente desmaia, a aura perde muito de seu brilho e se reduz em tamanho. As alterações resultam, provavelmente, da temporária exaustão. (Kilner. Walter. 1976)

Pouco adiante declara ele que, a despeito de sua natural repugnância, teve oportunidade de examinar alguns cadáveres e em nenhum deles encontrou qualquer traço da aura. O fato não lhe constitui surpresa, dado que já havia observado que este fenômeno ocorria mesmo nos estados de hipnose. Observou, também certa perda de nitidez da aura nos casos de doença do paciente. Embora ele não o comente, é de supor-se que a aura dos pacientes hipnotizados não seja detectada, simplesmente porque ele se acha ausente, em estado de desprendimento ou desdobramento.

É uma pena que seus estudos tenham permanecido tanto tempo relegados à indiferença e até hostilidade da classe médica, em particular, e dos pesquisadores, em geral, até serem retomados, principalmente pelos soviéticos, a partir da descoberta do "efeito Kirlian".

Segundo observações do dr. Kilner, qualquer alteração na saúde do indivíduo, se reflete na aura, seja na região afetada, quando circunscrita, seja em toda ela, quando a moléstia se generaliza pelo corpo físico.

Ao escrever um prefácio especial para a republicação do livro de Kilner, em 1976, Leslie Shepard lembra que o problema da aura ainda permanece no território limítrofe entre ciência e clarividência. Ainda que cauteloso quanto às conclusões do dr. Kilner, Shepard expressa suas esperanças de que novas edições da obra suscitem o interesse de modernos pesquisadores, providos, inclusive, de aparelhagem e conhecimentos mais sofisticados.

Por outro lado, a não ser a pesquisa de Boddington - e que consta, principalmente de sua obra capital, The University of Spiritualism - quase nada tem sido feito, em termos de aplicação das tecnologias indicadas pelo dr. Kilner, no estudo dos fenômenos mediúnicos, anímicos, de obsessão e possessão.

Que alterações, por exenlplo, ocorrem na aura de um médium no momento em que se acha sob a influência de um espírito desencarnado? Em que pontos ou setores da aura se ligam os perispíritos de seres encarnados e desencarnados? Que distúrbios provoca o acoplamento do perispírito de um invasor espiritual em sua vítima? Que características especiais oferece a aura de um médium em potencial ou em atividade? Que alterações ocorrem na aura de uma pessoa que ministra passes ou que os recebe?

Inúmeras são as referências de Harry Boddington à aura, em seus escritos, mas é no capítulo VIII - Marvels of human aura - de The university of spiritualism, que encontramos uma exposição mais ampla sobre o assunto. Para não expandir o nosso próprio estudo além dos limites que estamos procurando impor-lhe, tentarei um resumo das principais observações de competente autor inglês.

1) A aura é uma espécie de radiação luminosa que envolve o corpo humano, sendo constituída por inúmeras partículas de energia.

2) Essa radiação é singularmente sensível ao pensamento, ao qual responde com presteza.

3) A aura funciona como parte integrante da consciência.

4) Sua qualidade - aspecto, coloração, formato - varia segundo os temperamentos, o caráter e a saúde das pessoas.

5) Ela é "essencial a todas as manifestações psíquicas" e o meio através do qual operam os médiuns de cura, além de atuar como o próprio princípio ativo da cura.

6) "O fato de algumas pessoas serem médiuns e outras não, levou os espíritas a aceitarem, como hipótese de trabalho, a teoria de que os médiuns irradiam uma substância psíquica específica, que forma um vínculo semimaterial entre eles próprios e seus comunicantes invisíveis."

7) "Está provado que, a não ser que o magnetismo dos espíritos se mescle harmoniosamente com o dos sensitivos, eles não conseguem fazer notar sua presença.

8) Devidamente manipulada e condensada por um impulso da vontade - já vimos que ela se deixa influenciar facilmente pelo pensamento -, a aura se apresenta como ectoplasma, matéria prima para a produção de pequenos bastões, pseudópodes, ou materializações. Como ela reage ao pensamento e ao choque, exatamente como o corpo humano, pode-se concluir que ela constitui uma extensão do sistema nervoso.

9) A formação desses bastonetes e pseudópodes nas sessões de materialização resulta, na opinião de Boddington, de um esforço consciente da vontade do médium e não de uma inconsciente exteriorização sua, segundo afirmam os materialistas e negadores em geral.

Faço uma pausa para dizer algo acerca do termo pseudópode que, literalmente, quer dizer, pé falso. O dicionário de Aurélio nos diz que a palavra serve para conceituar a "saliência protoplasmática que se forma na periferia dos leucócitos e das amebas e outros protozoários, servindo-lhes para a locomoção". Esta é a razão pela qual se chamam pés falsos, porque não são a rigor, pés, mas servem para caminhar. No caso da fenomenologia psíquica de efeitos físicos, especialmente nos deslocamentos de objetos, a formação de pseudópodes observada e experiências com Eusápia e outros médiuns não se trata de uma saliência protoplasmática, como na biologia, mas de saliência ectoplasmática. É com esse tipo de pseudópode ou bastonete, já fotografados em algumas experiências que o sensitivo consegue deslocar objetos sem tocá-los com qualquer membro ou parte de seu corpo físico.

Prossigamos, no entanto, com Boddington e suas observações acerca da aura.

10) A aura não deve ser considerada como uma força cega, de vez que a consciência opera através dela da mesma forma que operamos atraves do sistema nervoso.

Discorrendo sobre as diversas cores da aura e seu significado, em termos de saúde física e características de temperamento e caráter, Boddington oferece um amplo quadro classificatório que não nos parece necessário reduzir aqui. Uma de suas observações sobre as sessões mediúnicas, contudo é o que se diria 'imperdível', e está apresentada da seguinte maneira harmonia prevalece" (entre os componentes do grupo), "as cores se mesclam mas, se verificar-se uma lacuna entre dois participantes, eles devem ser deslocados até que a falha desapareça."

Se as cores se recusam a mesclar-se, é melhor que os participantes desarmônicos se retirem do grupo ou, então, os resultados serão insatisfatórios. A aura de um novo participante pode anular completamente resultados positivos obtidos de outras vezes em que ele não se achava presente. Por outro lado, dois médiuns aparentemente do mesmo tipo, nem sempre intensificam o fenômeno. Ao contrário, sabe-se de casos em que um destrói a influência do outro. Um espírito amigo de Cora Tappan, e que se identificava como Benjamim Franklin, declarou que isto, às vezes, é devido ao fato de que um deles produz uma energia elétrica, ao passo que no outro ela é fosfórica. Separados, podem produzir fenômenos de natureza semelhante, mas, juntos, neutralizam-se mutuamente.

Devo acrescentar que a mixagem das cores deve ter sido observada e comunicada a Boddington pela sua esposa nas inúmeras experiências que realizou com ela, que dispunha desse tipo de faculdade. No meu entender a observação faz sentido. Cada um de nós tem uma vibração própria que, à visão dos sensitivos dotados da faculdade específica, pode traduzir-se em cores diversas. Não é de se admirar que certas vibrações não se combinem entre si e que outras se oponham ou se anulem mutuamente. Todos nós que lidamos com a mediunidade em ação sabemos que há pessoas que, introduzidas num grupo mediúnico, podem paralisar e neutralizar os melhores médiuns, ainda que involuntária ou inconscientemente.

Comigo mesmo ocorreu coisa parecida. Fui convidado, certa vez, para presenciar o trabalho de certa senhora que andava muito em evidência pelas suas manifestações ditas mediúnicas, em contato com seres interplanetários. Sem que houvesse o menor esforço negativo de minha parte - pelo contrário, eu estava interessado em observar a coisa, com absoluta isenção - a moça não conseguiu praticamente nada naquela noite. Eram óbvios o seu desapontamento e a perplexidade e mal-estar dos demais circunstantes, habituados às palestras com os misteriosos seres invisíveis, bem como meu próprio constrangimento. Devo ter deixado entre eles uma impressão horrenda de 'pé-frio'. Prefiro concluir, com Boddington, que as nossas cores não se misturaram, de jeito nenhum ...

É precisamente por causa da necessidade de uma harmonização entre as auras, que Boddington lembra que os espíritos estão constantemente a advertir quanto ao uso de drogas, álcool, alimentação inadequada e todos os hábitos, enfim, que "aviltem a mente ou esgotem os nervos". A aura, acrescenta ele, está "indissoluvelmente ligada a todos os órgãos do corpo do qual exala como o perfume de uma flor".

Não há como evitar, portanto, que substâncias tóxicas ingeridas ou pensamentos desarmoniosos admitidos afetem substancialmente a aura, produzindo distúrbios consideráveis no processo da comunicação mediúnica. Isso porque, não apenas a aura do médium tem de estar em boas condições vibratórias de limpeza energética, mental e emocional a fim de que possa oferecer seus encaixes aos espíritos manifestantes, como as auras dele e dos demais precisam estar adequadamente harmonizadas no grupo, como um todo. Se um participante comparece com elevada dosagem de álcool no sangue ou com uma refeição pesada, em processo de digestão, será impraticável sua integração harmoniosa no grupo. Os espíritos nos dizem que em tais casos aplicam o recurso extremo de isolar a criatura para que, já que não pode ajudar, pelo menos não perturbe os trabalhos, uma vez que sua aura se apresenta literalmente suja e desarrumada.

Pelas suas implicações na temática da aura e pelas interessantes observações e ensinamentos que proporciona, julguei oportuno incluir neste módulo uma notícia acerca do livro do dr. Carl A. Wickland, Thirty Years Among The Dead, um clássico entre os estudos do fenômeno psíquico.

Sob orientação de amigos espirituais, que começaram a manifestar-se através da sua esposa, o dr. Wickland passou a cuidar, com êxito para ele inesperado, de distúrbios mentais e psicossomáticos em pacientes vitimados por influências espirituais indesejáveis.

Segundo depoimento consistente dos próprios espíritos, usualmente sem consciência de que haviam 'morrido', eles eram atraídos pela aura de certas pessoas, conhecidas ou desconhecidas, e ali permaneciam como que aprisionados e em grande confusão mental. Como que aderidos ou imantados ao perispírito dos encarnados, viviam, às vezes, várias entidades em disputa feroz pela posse do corpo da vítima, que cada um julgava pertencer-lhe.

O dr. Wickland mandou construir um aparelho especial, com o qual aplicava no paciente obsidiado um choque elétrico que desalojava os espíritos ligados à sua aura, logo verificou, contudo, que, passada a desagradável sensação do choque, eles voltavam à condição anterior e davam prosseguimento ao conflito pela posse do corpo, do qual cada um deles, inclusive o encarnado procurava expulsar os demais.

Foi então que os amigos espirituais do médico propuseram trazer os pobres seres desorientados para que fossem esclarecidos, individualmente, pelo doutor - que se revelou um bom doutrinador -, através da mediunidade da sra. Wickland.

Vejamos como o autor e médico coloca o problema. Diz ele às páginas 90 e 91:

"O organismo de todos os seres humanos gera uma força nervosa magnética que o envolve numa atmosfera de emanação vital e luz psíquica conhecida como aura magnética. Essa aura é vista como luminosidade pelos espiritos ainda presos às sombras do ambiente terreno e que podem sentir-se atraídos por pessoas particularmente suscetíveis a esse tipo de invasão. Tais espíritos, freqüentemente incapazes de abandonar essa atmosfera psíquica e, devido ao resultante estado de confusão - mesmo lutando por libertarem-se -, acabam convivendo com o médium, ressentido da presença deles e desnorteado por uma sensação de dupla personalidade. Após retirar de um paciente vários espíritos, a princípio turbulentos, tivemos a seguinte experiência, que demonstra claramente o sofrimento que os espíritos suportam quando se enredam na aura de uma morta. (Wickland. Carl)

Segue-se a transcrição de um longo diálogo, no qual o espírito totalmente ignorante de sua real situação, diz, a certa altura:

"Eu estava no meu lugar. Havia muitos de nós, todos embalados, homens e mulheres. Tínhamos um lar, mas não podíamos sair dali. Às vezes, o ambiente era tépido. Por algum tempo, eu permanecera sozinho na escuridão. Antes de ser preso, pude falar uma vez, mas agora estou só. Você não tem o direito de me colocar aquelas coisas que queimam". (Idem).

Como se pode observar, o espírito viveu algum tempo na situação de erraticidade mencionada na codificação espírita. Sentia-se sozinho e mergulhado em trevas. Atraído pela aura de uma pessoa que oferecia condições propícias, ele se aproximou e acabou como que imantado ali, juntamente com outros espíritos em condições semelhantes às suas. No jargão popular, era uma situação de 'encosto', da qual o médium involuntário e despreparado sofria penosas conseqüências, inclusive doenças de natureza psicossomáticas.

Depreende-se, ainda, do texto e das sumárias observações adicionais do doutor que, após afastados os demais espíritos - e como eles reclamavam dos choques elétricos! - a manifestante (era uma mulher), ficou sozinha e conseguiu até comunicar-se através da sua vítima e hospedeira, mas acabou também desalojada por verdadeira tempestade magnética provocada pelos choques aplicados pelo dr. Wickland, com a sua temível aparelhagem.

Eis aí, portanto, exemplos vivos de que a aura é, de fato, a 'plataforma onipresente' de que nos fala André luiz, "antecâmara de todas as nossas atividades de intercâmbio com a vida que nos rodeia", extensão viva do perispírito que, segundo Kardec, é o "órgão transmissor de todas as sensações" e "princípio de todas as manifestações".

Não há, pois, como minimizar ou ignorar a importância da aura e do perispírito no estudo dos fenômenos de natureza anímica ou mediúnica.

Hermínio C. Miranda